Astrolábio

Ganhei um grande interesse por astrolábios há uns anos. Já não me lembro como começou, mas deve ter tido origem no meu entusiasmo por navegação astronómica.
1.
Cedo aprendi que há dois tipos de astrolábios distintos: o astrolábio planisférico, utilizado pelos Árabes e o astrolábio náutico, que os Portugueses utilizaram nas Descobertas.
Só percebi verdadeiramente a forma genial, como os portugueses desenvolveram o astrolábio náutico, quando me decidi a escrever uma biblioteca de programas, para desenhar astrolábios planisféricos para qualquer latitude. E construí alguns.
2.
A história do astrolábio planisférico começou na Grécia antiga, com Ptolomeu, com a criação da “projeção estereográfica”.
A forma como Ptolomeu a terá desenvolvido, desafia a imaginação e para a explicar apareceu uma lenda.
“Ptolomeu ía de viagem, num camelo, e levava na mão uma esfera armilar. Num momento de descuido esta caiu ao chão e o camelo pisou-a.
Quando a foi recuperar, ao ver a esfera armilar achatada pela patada do camelo, Ptolomeu teve uma epifania e criou o astrolábio planisférico.”
3.
Na Idade Média, o astrolábio teve um grande desenvolvimento no Mundo Islâmico que tinha um grande avanço científico sobre a Europa.
A sua função era prática, ligada à religião. Entre outras utilizações servia para determinar as horas das 5 orações diárias (as “salat”) e também a direção para Meca (a “qibla”).
Os astrolábios árabes eram objetos de arte. Na frente tinham como peças principais a Aranha (ou “Rete”), que rodava como o movimento da esfera celeste e que era independente na latitude.
Tinha marcadas as posições das principais estrelas e também a eclítica sobre a qual se desloca o Sol ao longo do ano.
Outro elemento essencial eram os tímpanos intermutáveis, cada uma desenhada para uma dada latitude; tinham representados os azimutes da esfera celeste e círculos paralelos ao horizonte (os almucantares).
Nas costas do astrolábio existiam uma alidade para medir ângulos e algumas curvas auxiliares.
4.
No século XIV a Europa adotou o astrolábio como um relógio, que permitia saber a hora de dia ou de noite desde que o Sol ou uma estrela conhecida estivesse visível. Era um verdadeiro iPhone da época, objeto de prestígio para quem o possuía.
5.
Surge agora o golpe de génio dos portugueses com o astrolábio náutico.
Retiveram do astrolábio árabe apenas a alidade, integrada num instrumento robusto, adaptado a medir alturas dos astros no Mar.
Eliminaram a Aranha e os Tímpanos e toda a informação astronómica passaram-na para tabelas.
Um exemplo dessas tabelas é o Almanaque Perpétuo de Abraão Zacuto.
Esta abordagem manteve-se até ao aparecimento do GPS. O Astrolábio evoluiu para o sextante e o almanaque foi-se tornando mais preciso.
6.
Um exemplo a seguir e uma metodologia a repetir, em múltiplos campos em que queremos inovar. Reunindo o melhor talento para conseguir adaptar tecnologias existentes a novas finalidades.
António Vidigal, dixit
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