“Não consigo descobrir muitas diferenças entre a gente da península, somos a mesma coisa, temos a mesma maneira de reagir, embora se coma melhor na Catalunha do que em Portugal. É uma pena que não sejamos o mesmo país, todos os ibéricos. Filipe II de Espanha e I de Portugal tinha todo o direito de ser nosso rei, era neto do monarca legítimo”, afirmou o escritor logo na primeira resposta da entrevista, antes de acrescentar que o “grande amor” da sua infância foi uma criada galega que trabalhava para os pais.
O autor que lançou recentemente em Portugal “A última porta antes da noite” realçou que o escritor que mais o comove “ainda é um grande poeta do século de ouro” da Península Ibérica, Francisco Gómez de Quevedo, a quem só Camões se pode igualar, na opinião de Lobo Antunes. “O meu pai lia-nos em voz alta aos seis filhos, gostava muito de poesia”, lembrou o escritor nascido em 1942.
Há mais de dez anos, o Nobel da Literatura José Saramago (1922-2010) disse, ao Diário de Notícias, que Portugal acabaria por se integrar em Espanha, tornando-se uma província de um país que se chamaria Ibéria, para não ofender “os brios” portugueses.
A dada altura, o entrevistador diz não se atrever a perguntar-lhe pelo prémio Nobel, ao que Lobo Antunes lembra ter entrado na coleção Pléiade, “que é muito mais importante que ganhar o Nobel”, acrescentando que os seus livros estão a ser traduzidos também para o árabe, antes de questionar: “Que mais posso desejar?”
“A única coisa que me interessa dos prémios é o dinheiro. Quando me telefonam a dizer que ganhei um, a primeira coisa que pergunto é ‘quanto?’”, acrescentou.
Antes de terminar a entrevista, Lobo Antunes ainda referiu que estar casado “é uma coisa muito boa para trabalhar, caso contrário perde-se muito tempo a perseguir mulheres”.