Luanda, 05 ago (Lusa) – O antigo porto da rota de escravos de Loango, na atual República do Congo, vai ser candidatado a Património da Humanidade da UNESCO, no âmbito de um movimento para resgatar a cultura pré-colonial africana impulsionado por Angola.
A informação foi prestada pelo Ministério da Cultura angolano, após a visita que a titular da pasta, Carolina Cerqueira, realizou, entre quinta e sexta-feira, à República do Congo e ao Gabão, para agradecer o apoio ao processo de classificação das ruínas de Mbanza Congo, antiga capital do Reino do Congo, na província angolana do Zaire, como Património da Humanidade, daquela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura, que aconteceu a 08 de julho.
Com cerca de 800 anos, Mbanza Congo foi capital do antigo Reino do Congo, organizado e estruturado ainda antes da chegada dos portugueses, e que além de Angola se prolongava pelo atual território da República Democrática do Congo, República do Congo e Gabão.
Do encontro da ministra Carolina Cerqueira com o Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, além do apoio congolês à promoção conjunta da nova classificação – que envolverá, por indicação da UNESCO, a realização de um festival anual dos quatro países da sub-região -, surgiu a garantia da preparação, em curso, pelos especialistas congoleses, do Projeto de Candidatura do sítio do Loango a património da humanidade.
Trata-se de um reino igualmente de origem pré-colonial, que além daquele território chegava até ao atual enclave de Cabinda (Angola), sendo a área alvo da candidatura à UNESCO conhecida como antigo porto da rota de escravos, “de onde participaram cerca de dois milhões de pessoas para a América do Sul, Caraíbas e América do Norte”.
Ainda de acordo com o Ministério da Cultura angolano, Denis Sassou Nguesso referiu que com a inscrição de Mbanza Congo como património mundial “cria-se uma motivação para se investir mais no resgate dos valores culturais históricos e organização da sociedade antes da época colonial”.
Além de Denis Sassou Nguesso, a ministra Carolina Cerqueira reuniu-se no Gabão, com o chefe de Estado gabonês, Ali Bongo Ondimba, a quem também transmitiu a mensagem de agradecimento do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, do apoio ao processo que levou à candidatura e classificação de Mbanza Congo, capital de “um dos mais poderosos estados existentes na África Subsariana antes da chegada dos europeus”.
Uma candidatura que para Angola – que tenta mobilizar os restantes países -, não se esgota com a classificação da UNESCO, mas que implica a necessidade de “um trabalho em comum visando um aprofundamento dos valores culturais e da organização do poder administrativo político”, recorrendo aos estudiosos da história do reino do Congo, “envolvendo, sobretudo, as universidades da sub-região e não só”.
A cooperação entre os países do antigo reino passa desde logo pela pretensão do Governo angolano de promover o turismo cultural e científico em Mbanza Congo, lançando um festival cultural com a participação dos grupos tradicionais da região.
O projeto “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”, que tinha como principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no século XIII, na lista do património da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007, mas a sua classificação é culminar de um processo com cerca de 30 anos.
O centro histórico de Mbanza Congo está classificado como património cultural nacional de Angola desde 10 de junho de 2013.
A candidatura de Angola destacava que o Reino do Congo estava perfeitamente organizado aquando da chegada dos portugueses, no século XV, uma das mais avançadas em África à data.
A área classificada envolve um conjunto cujos limites abrangem uma colina a 570 metros de altitude e que se estende por seis corredores.
Os trabalhos arqueológicos realizados no local envolveram a medição da fundação de pedras descobertas no local denominado “Tadi dia Bukukua”, o antigo palácio real.