Ndalatando, Angola, 11 nov (Lusa) – O vice-Presidente de Angola defendeu hoje a necessidade de “conservar e valorizar” as marcas físicas do passado colonial português, nomeadamente no corredor do rio Kwanza, que o país pretende candidatar a património da UNESCO.
Manuel Vicente discursava em Ndalatando, capital da província do Cuanza Norte, onde presidiu às comemorações oficiais dos 41 anos da independência de Angola, tendo destacado a oposição que aquela região do país sempre demonstrou ao colonialismo português ao longo da história.
“Momentos inesquecíveis de grande exaltação patriótica que nos devem inspirar no presente para construirmos todos, em conjunto, uma nação desenvolvida, democrática, justa e moderna”, enfatizou.
Recordou que o corredor do Kwanza, o mais importante rio de Angola, “foi a primeira e principal via de penetração do colonialismo” no país, como atestam os “inúmeros fortes, fortalezas e igrejas” construídos pelos portugueses durante séculos.
“Eles foram, no entanto, insuficientes para vergar a sua população, que nunca admitiu ser subjugada por ninguém vindo do exterior. É um símbolo de transcendente importância que o túmulo da heroica resistente rainha Njinga Mbandi se encontra situado nesta província”, reconheceu.
Recordou que Angola tem um projeto para candidatar o corredor do Kwanza à lista do património cultural da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), destacando-se o seu simbolismo na dinâmica histórica, cultural e comercial.
Aquele corredor era utilizado pelos povos locais e com a chegada dos portugueses passou a ser uma rota para a introdução do cristianismo, tendo igualmente potenciado o ‘negócio’ dos escravos.
“É preciso também conservar e valorizar as marcas físicas do passado colonial”, disse Manuel Vicente, apontando como exemplo as fortalezas e igrejas do longo do Kwanza, “para que tanto os nacionais como os estrangeiros possam aprofundar conhecimentos da nossa história”.
Perante a ideia de levar o corredor do Kwanza à lista do património da UNESCO, o vice-Presidente da República destacou ser urgente melhorar as vias de acesso da província.
“Não visa apenas permitir o relançamento da agricultura [da província], mas também da atividade turística”, disse, perante milhares de pessoas, no centro da Ndalatando, que até à independência do colonialismo português se chamava Vila Salazar.
O primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, proclamou a independência do país a 11 de novembro de 1975, após 500 anos de colonialismo português.
Num discurso sobretudo voltado para o plano regional, Manuel Vicente reconheceu os “potenciais incalculáveis” do Cuanza Norte – atualmente o maior produtor hidroelétrico de Angola -, que podem “ajudar o país a sair do subdesenvolvimento”.
Contudo, também reconheceu que “cerca de 90% da população” da província “ainda vive em casas precárias, de adobe, e milhares de famílias vivem mesmo em zonas de risco”.
“Ainda não se verifica aqui um ritmo acentuado de construção e reabilitação das infraestruturas, como nas outras províncias”, admitiu, apontando a necessidade de aumentar o “rigor, disciplina, e eficácia” para “fazer muito mais e em menos tempo”, traçando a indústria florestal como uma das novas apostas do Cuanza Norte.
Durante aquelas que serão as últimas comemorações da “Dipanda” angolana antes das eleições gerais de 2017, o vice-Presidente defendeu o cultivo de um “espírito de respeito pelas ideias dos outros e o espírito de tolerância”.
“É responsabilidade de todos os cidadãos, dos partidos políticos, das igrejas e das organizações não-governamentais criar as condições espirituais necessárias para que as eleições decorram num clima de paz, segurança e respeito mútuo, a fim de que cada eleitor exerça livremente o seu direito de voto”, disse.
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