A presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua esteve de passagem pelo território como uma das oradoras do XII Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas. Na última sessão do encontro que terminou na passada sexta-feira discutiu-se o português no mundo e quais os desafios que esta língua enfrenta.
A afirmação do português como língua de ciência e de trabalho nas organizações internacionais e o universo potencial da intercompreensão entre as línguas espanhola e portuguesa foram os desafios levantados por Ana Paula Laborinho, na passada sexta-feira, no decorrer da sessão “O Português no Mundo”. “As línguas são formas de afirmação de poder, são formas também de se afirmar do ponto de vista dos negócios e por isso mesmo podemos dizer que as línguas seguem a rota dos negócios” disse a presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua durante aquele que foi o último dia do XII Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas.
No contexto mundial, o idioma de Camões compõe actualmente um universo de 261 milhões de falantes e é a língua mais falada no hemisfério Sul, a terceira nos negócios mundiais do petróleo e do gás e a quinta mais falada na Internet. Apesar destes indicadores e da “verdadeira política de língua” encetada pela República Popular da China, Ana Paula Laborinho, umas das responsáveis pela implementação do Instituto Português do Oriente em Macau, entende que “há dificuldades e há desafios”.
“Uma língua não será também uma grande língua internacional se não se afirmar do ponto de vista da ciência e da inovação” considerou a presidente do Camões. De forma a que a língua portuguesa conquiste esta posição, a também professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa entende ser necessário estabelecer bases de dados científicos e preparar terminologias científicas em português. “É preciso que as questões da linguagem natural e da automatização passem também a ser trabalhadas em português” rematou.
Uma das potencialidades apontadas pela presidente do Camões passa pelo aproveitamento da proximidade entre as línguas portuguesa e espanhola e a sua intercompreensão. “Forma-se uma comunidade de 700 milhões de falantes que se podem compreender também do ponto de vista dos negócios, da ciência, da inovação” disse a académica que apontou o “potencial muito grande” que daqui pode ser retirado.
Com a eleição de António Guterres como secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a académica considera que se criou uma “maior expectativa” quanto à língua portuguesa vir a tornar-se língua oficial do organismo. Contudo, Ana Paula Laborinho lembrou que o português “já é língua de trabalho em algumas agências da ONU, incluindo a UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura]”.
A PAISAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR-LESTE E NA CHINA
O actual panorama do português no mundo foi também traçado por Benvida da Rosa Lemos Oliveira e Eugénia de Jesus das Neves da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e. As académicas timorenses retrataram a realidade linguística do seu país e apresentaram as políticas governamentais de reforço linguístico a par com a história da língua portuguesa em Timor-Leste.
Um elemento que surpreendeu as professoras foi a predominância da língua portuguesa na paisagem de Macau, por oposição ao que ocorre em Timor-Leste onde se assiste a uma preponderância do indonésio, inglês e até chinês. Tais factos apresentam-se contraditórios para as académicas devido ao facto de a penetração do português no seu país ser superior ao que existe em Macau.
Por seu turno, Carlos Ascenso André, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, traçou o panorama actual do ensino do português na China com as suas conquistas, desafios e exigências. Ao reduzido número de professores alia-se o isolamento relativo das universidades e a ausência de meios e materiais. O académico entende ser necessário um apoio continuado na formação, produção de materiais destinados a docentes chineses, um maior diálogo entre as instituições e mais parcerias. “Numa palavra: apoio global, sistemático e regular” concluiu.