Em declarações à Lusa, Ana Margarida de Carvalho disse que, para este romance, contou com o trabalho jornalístico que fez sobre a resistência ao regime de ditadura, anterior ao 25 de Abril de 1974, tendo entrevistado várias pessoas, entre as quais um dos participantes na Revolta dos Marinheiros, na década de 1930.
A narrativa parte da Revolta dos Operários na Marinha Grande, em 1934, que instituiu, por horas, um “soviete”. Alguns dos revoltosos fizeram parte do primeiro grupo de prisioneiros que inauguraram o campo de detenção do Tarrafal, em Cabo Verde, dois anos depois, lembrou a escritora.
Ana Margarida de Carvalho sentenciou que o romance, editado pela Teorema, “tem um contexto sociopolítico, mas não é um livro de denúncia ou um romance histórico”.
“O romance passa-se em duas épocas, em paralelo, nos anos 1930, a partir da revolta na Marinha Grande, e na atualidade, no século XXI, e é um livro que contém outras fúrias e revoltas, como a dos Marinheiros, e as nossas fúrias quotidianas, conjugais, laborais, etc.”.
“Serve-me de pano de fundo, de contexto, onde ponho as personagens em situação, porque, pelo meio, há uma história de amor. Esta é a paisagem histórica do livro, apenas”, afirmou.
“O livro fala de dois casais que não se conseguem encontrar, por circunstâncias várias, nomeadamente por o protagonista ter ido parar ao Tarrafal”, acrescentou.
O título foi buscá-lo ao poema de uma canção de José Afonso.
A autora está já a preparar um novo romance, “que se passa num outro continente e no século XIX, e em que as pessoas não se conseguem colocar no lugar umas das outras, mas são forçadas a isso”, adiantou.
O livro “Que importa a fúria do mar”, de Ana Margarida de Carvalho, venceu “por unanimidade” o Grande Prémio de Romance e Novela, no valor de 15.000 euros, da Associação Portuguesa de Escritores (APE), anunciou hoje esta instituição.
O romance de estreia de Ana Margarida de Carvalho tinha já sido finalista do Prémio LeYa e é igualmente finalista do Prémio Fernando Namora, cujo vencedor deve ser conhecido esta semana.
O júri foi constituído por José Correia Tavares, que o presidiu, os catedráticos Annabela Rita, Teresa Carvalho e José Manuel de Vasconcelos, e pelos escritores Cândido Oliveira Martins e Vergílio Alberto Vieira.
O júri reuniu-se hoje, pela terceira vez, segundo o comunicado da APE, que não adianta em que data será entregue o galardão.
Para a Teorema, “Que Importa a Fúria do Mar” é um romance “com uma maturidade literária invulgar que coloca, frente a frente, duas gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou”. “Brilhante no desenho dos protagonistas e recorrendo a um estilo tão depressa lírico como despojado”.
Ana Margarida de Carvalho nasceu em Lisboa, é licenciada em Direito, jornalista na revista Visão e, até agora, recebeu “sete dos mais prestigiados prémios do jornalismo português, entre os quais o Prémio Gazeta Revelação do Clube de Jornalistas de Lisboa, do Clube dos Jornalistas do Porto e o da Casa da Imprensa”, segundo comunicado da APE.
NL // MAG – Lusa/Fim
Fotos extraídas do Facebook de Ana Margarida de Carvalho