Amélia Mingas

Academia Angolana de Letras

AMÉLIA MINGAS,  ACADÉMICA DE MÃO CHEIA

 

LUANDA, 15 de dezembro de 2023

“… do ponto de vista científico, não há razão para Angola ratificar esse protocolo sobre o Acordo Ortográfico (AO), porque não reflecte a realidade e a contribuição dos angolanos para o enriquecimento dessa língua. Por exemplo, temos pré-nasais nas nossas línguas que são muito importantes, como é o caso de mb-, mp-, nt-, nd-, que são elementos que nas nossas línguas contrastam com outras consoantes. (…). Há especificidades das nossas línguas que não estão presentes no AO. Para que o AO seja correcto, cada país deve inventariar os termos das suas línguas e culturas para se ver como deverão ser escritas em português.”

(Amélia Mingas pronunciando-se sobre o Novo Acordo Ortográfico, num excerto da entrevista que concedeu ao Nova Gazeta, de 10 de Outubro de 2013)

 

APRESENTAÇÃO  DA HOMENAGEADA

Amélia Arlete Vieira Dias Rodrigues Mingas nasceu em Luanda, dia 17 de dezembro de 1940, e faleceu por doença, no dia 12 de agosto de 2019, também em Luanda, aos 78 anos de idade.

Filha do também nacionalista André Rodrigues Mingas e de Antónia Diniz de Aniceto Vieira Dias, Amélia Mingas foi uma eminente nacionalista, linguista, académica e professora de créditos inquestionáveis, tendo produzido informação e estudos científico-académicos importantes para a compreensão do panorama sociolinguístico angolano e mesmo internacional, além de ter guiado e formado muitos estudiosos angolanos que contribuem significativamente no campo investigativo e académico nacional da linguística, particularmente da linguística bantu.

Professora de mão cheia, Amélia Mingas leccionou durante mais de 45 anos em Angola, passando pela alfabetização, ensino primário, secundário e universitário, tendo exercido funções de coordenadora de língua portuguesa do Instituto Médio de Educação à Decana da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, com passagem pela coordenação do departamento de língua portuguesa do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED-Luanda), instituição em que foi responsável pela cadeira de linguística bantu.

A linguista Amélia Mingas foi directora executiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com sede em Cabo Verde, entre 2006 e 2010, tendo sempre defendido uma política linguística harmónica entre os Estados que utilizam o português como língua oficial, sem descurar as influências das línguas e culturas locais.

A nossa homenageada foi igualmente directora do Instituto Nacional de Língua do Ministério da Cultura, estudou filologia germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorou-se em linguística geral e aplicada pela Universidade Paris-Descartes. 

Amélia Mingas exerceu o cargo de Decana da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto (2010/2015), sendo responsável pela defesa, promoção, difusão e enriquecimento da língua portuguesa (2006/2010), além de ter participado nas negociações que conduziram à criação, instalação e apetrechamento do Centro de Língua Portuguesa do ISCED/Luanda, sob a égide do Instituto Camões (2002/2005).

 

ACTIVIDADE POLÍTICA

Proveniente de uma família de brilho nacionalista, Amélia Mingas esteve ligada à actividades políticas e à luta pela independência nos anos  50 do século XX. O seu pai, André Rodrigues Mingas, foi em 1957 para o Tarrafal, depois de ter estado preso em Luanda, regressando apenas em 1965.

“Depois da prisão do meu pai, tive de começar a trabalhar. E foi assim que entrei para a Repartição de Educação. Naquela altura o ensino era pago e a maioria dos angolanos, como não tinha grandes possibilidades, acabava os estudos no antigo sétimo ano. Quando o meu pai regressou de Cabo Verde, insistiu muito para que eu continuasse os estudos. E foi assim que fui parar a Lisboa”, contou a dada altura Amélia Mingas.

Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde começou o curso de Filologia Germânica, conheceu Graça Machel e Gita Howana, cuja amizade se manteve sólida até a data da sua morte.

Em 1966 passa a coadjuvar a coordenação da célula do MPLA em Portugal, responsável pela mobilização de estudantes para integrarem o dito movimento. 

Em 1967 parte para a Alemanha, via Paris, onde contacta o combatente Rui de Matos e obtém informações sobre a luta de libertação, informações que depois de reproduzidas, foram distribuídas pelos Angolanos, estudantes em Lisboa, exercício que repete em 1968, em Londres, tendo contactado os Comités de apoio à Luta de Libertação em África.

Interrompendo a sua formação em Portugal, e a fim de concretizar a sua integração na Luta de Libertação Nacional, em 1972 Amélia Mingas parte para a Argélia, pelo MPLA. Alguns meses depois, parte para a cidade de Brazzaville, onde integra a 2ª Região Político-Militar, tendo sido colocada como professora no Internato 4 de Fevereiro (Centro de Formação de Pioneiros), em Dolisie. No ano seguinte, em 1973, fez treino militar na Base Kalunga, e no período entre 1973/74 participa no Movimento de Reajustamento.

Amélia Mingas regressou a Angola em 1975 e começou a dar aulas no antigo Liceu Salvador Correia. Depois de ter concluído a licenciatura (1981) em Filologia Germânica, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, dedicou-se ao estudo da especificidade dos falantes de Português em Angola.

 

ACTIVIDADE ACADÉMICA E DOCENTE

Amélia Mingas teve uma vida académica intensa:

Com doutoramento em Ciências da Linguagem, na Universidade Paris V René Descartes, Paris, sob direcção de Emílio Bonvini, com o título “Etude grammaticale de l ‘iwoyo Angola’;

Com mestrado em Sociolinguística pela Universidade Paris – V René Descartes, Paris, com o título “Interférence du kimbundu dans le portugais parlé à Lwanda”, sob direcção de Louis-Jean Calvet;

Com mestrado em Linguística Geral e Aplicada, na Universidade Paris V René Descartes, Paris, com o título “Les classes nominales e l ‘iwoyo-Angola”, sob direcção de Denise François-Geiger e Alan Bentolila.

Entre 1979 e 1985 passou a ensinar no Instituto Normal de Educação Física Saydi Mingas, em Luanda, e entre 1998 e 2019 escreveu o seu nome no ensino e investigação na Universidade Agostinho Neto, chegando a regente do Curso de Línguas e Literaturas Africanas e responsável pela cadeira de Linguística Bantu, leccionando cadeiras como Fonética e Fonologias das Línguas Africanas e Linguística Bantu.

Professora Catedrática da Universidade Agostinho Neto, Amélia Mingas coordenou os Cursos de Mestrado em Ensino da Língua Portuguesa e Ensino das Literaturas de Língua Portuguesa, no ISCED de Luanda, então unidade orgânica da Universidade Agostinho Neto (2005 – 2006), e os Cursos de Mestrado em Línguas Angolanas e Literaturas em Línguas Angolanas, na Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto (2012 – 2019).

Em Angola e no exterior do País, o seu nome aparece associado à seminários e conferências ligados à importância das línguas nacionais, formação identitária, português em Angola como língua estrangeira ou segunda, línguas, etnias e nação, multicontinentalidade linguística, diáspora, língua e história no processo de ensino – aprendizagem, etc. 

No capítulo de orientações de teses de doutoramento, dissertações e monografias de mestrado e trabalhos de fim de curso de licenciatura, orientou dezenas de quadros, além de ter participado em inúmeros júris de licenciaturas, de mestrados e de doutoramentos, como o do malogrado académico António Fernandes da Costa, membro fundador da Academia Angolana de Letras. 

Amélia Mingas organizou (2005), no ISCED da Universidade Agostinho Neto, os Mestrados em “Ensino da Língua Portuguesa” e de “Literaturas em Língua Portuguesa”, com cinquenta mestrandos inscritos, e os cursos de Mestrado em Língua Portuguesa; Literaturas em Língua Portuguesa; Línguas Angolanas; Literaturas em Línguas Angolanas; Língua Francesa; Literaturas em Língua Francesa; Língua Inglesa; Literaturas em Língua Inglesa; Filosofia, ambos na Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto (2012).

 Sobre as suas publicações, contam-se “Interferência do Kimbundu no português falado em Lwanda” (2000), “Organização dos Cadernos de Tradição Oral”(2001), “Contos Angolanos” (2003), “Inquérito Linguístico Angolano – ILANG”,   elaborado em co-autoria com Zavoni Ntondo, em 1997, mas publicado em 2013. Seguem-se inúmeros artigos científicos ligados à língua portuguesa, linguística bantu e sociolinguística.

 

OBJECTIVOS DA HOMENAGEM

Iniciado em Dezembro de 2022 com a homenagem ao patrono da AAL, Dr. Agostinho Neto, a Academia Angolana de Letras (AAL) prossegue com os actos simbólicos de homenagem a homens de letras, com destaque para os angolanos que inscreveram os seus respectivos nomes nos anais da história de Angola, pelos seus singulares trajectos em prol da promoção e valorização da cultura e do nacionalismo angolano.

Num ano em que, caso estivesse vivo, Amélia Mingas completaria 83 anos de idade no dia 17 de Dezembro, a AAL estende o seu gesto de homenagem a esta eminente académica angolana, mulher determinada, de trato afável e de alma altruísta, de sorriso franco e sincero.

Gestos como esse da AAL buscam perpetuar a memória de angolanos como Amélia Mingas, que contribuíram para a valorização das línguas nacionais, da linguística bantu e da importância da investigação linguística no processo de estudo e compressão da interferência das línguas nacionais no português falado em Angola.

 

PARTICIPANTES E TEMA

Tanto para a deposição da coroa de flores quanto para o Encontro, estão convidados todos os membros fundadores e efectivos da AAL, além de familiares e amigos da homenageada.

A homenagem inicia no cemitério Alto das Cruzes, com a deposição de uma coroa de flores na campa onde repousam os restos mortais da académica Amélia Mingas.

Para o Encontro, foram convidadas entidades singulares e colectivas, que poderão valorizar e enriquecer a discussão, além de se abrir a possibilidade da participação pública.

No encontro, prevê-se o testemunho de três oradores: 

  • Jota Carmelino (Viúvo)
  • Ana Pita Grós Martins da Silva (discípula e ex-colega)
  • José Octávio Serra Van-Dúnem (membro fundador da AAL)

 

METODOLOGIA PARA O ENCONTRO

Após o acto de abertura formal do evento, pelo presidente da AAL, o académico Paulo de Carvalho, o académico António Quino assumirá e dirigirá o encontro, administrando toda a sequência da comunicação e debate.

No espaço máximo de quarenta e cinco (45) minutos, os três oradores darão os respectivos testemunhos, posteriormente, o debate, com perguntas, respostas e outras contribuições, à dimensão da homenagem.

Ou seja, após comunicação, a plateia, constituída por público diversificado, entre familiares, convidados e interessados na homenagem, terá direito a palavra para enriquecer o debate que se pretende público, franco, académico e construtivo.

 

HOMENAGEM PÓSTUMA À ACADÉMICA AMÉLIA MINGAS

15 de dezembro de 2023

PERÍODO DA MANHÃ

  • Local: Cemitério Alto das Cruzes, Luanda.
  • 10H30: Concentração dos participantes ao acto de homenagem
  • 11H00: Deposição duma coroa de flores na campa da linguista AMÉLIA MINGAS
  • Palavras de circunstância do Presidente da AAL;
  • Palavras de circunstância da família da homenageada.

 

PERÍODO DA TARDE

  • Local: Sede da União dos Escritores Angolanos, Luanda. 
  • 14H30: Chegada dos convidados
  • 15H00: Início do Encontro
  • Abertura, pelo Presidente da AAL, Académico Paulo de Carvalho;
  • Momento musical
  • Apresentação dos oradores, pelo Académico António Quino;
    • Jota Carmelino (Viúvo) – 15’
    • Ana Pita Grós Martins da Silva (discípula e ex-colega) – 15’
  • José Octávio Serra Van-Dúnem (membro fundador da AAL) – 15’
  • Momento musical
  • Debate (50’)

 

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