Alunos da Escola Portuguesa de Macau conheceram criador da “Girafa que comia estrelas”

Os alunos do ensino primário foram os mais entusiastas no encontro com o escritor angolano, promovido pelo Festival Literário de Macau – Rota das Letras. Com os olhos a brilhar, ocuparam as primeiras filas da plateia e, sem esconder a admiração por Agualusa, todos queriam fazer perguntas e conhecer melhor o criador de Olímpia, a girafa que andava sempre com a cabeça nas nuvens.

Com um ritmo semelhante a uma peça de teatro ensaiada, os alunos do 2.º ano do ensino primário da Escola Portuguesa de Macau partilharam, um a um, com aquele que dizem ser um dos seus contadores de histórias preferidos, o prazer que foi ler as aventuras de Olímpia e “conhecê-lo pessoalmente” e quiseram saber mais sobre o escritor, a sua origem e fontes de inspiração.

“Passeava pela savana na sua infância? A savana é verde no tempo das chuvas e como um campo de trigo no verão? Por que decidiu tornar-se escritor? Podemos tirar uma fotografia consigo?”, as perguntas e pedidos eram muitos e variados e a excitação escondia a vergonha.

Agualusa explicou que “ouvia os leões e via as girafas com frequência porque vivia perto do Jardim Zoológico” e que a sua casa “ficava na fronteira entre a cidade e a savana”.

“Sempre tive amor aos animais e, por isso, estudei agronomia, porque queria trabalhar com eles (…), mas arrependi-me, porque escrever é o melhor dos ofícios, não temos horário, não temos chefe, podemos trabalhar em casa”, disse.

O autor lembrou que começou a escrever na universidade, quando estudava agronomia em Lisboa, ao juntar-se a outros alunos africanos para o lançamento de uma revista cultural e que se tornou escritor “sem pensar muito nisso”.

“A minha mãe era professora de português e francês e em minha casa havia muitos livros. A principal razão por que alguém se torna escritor é porque gosta de ler. Ler bons escritores leva-nos a querer escrever”, acrescentou, apontando que “Os Maias”, de Eça de Queiroz, é uma das suas obras favoritas.

“Comecei a escrever para tentar compreender o mundo e a mim mesmo”, disse Agualusa, acrescentando que a literatura infantil surgiu nesse percurso quando esperava o primeiro filho e desafiado por uma amiga jornalista.

“No início hesitei, porque as crianças são mais inteligentes do que os adultos, mas comecei e foi como regressar à infância”, lembrou, salientar que a filha de oito anos “é a [sua] primeira leitora”.

Os alunos cantaram depois os parabéns atrasados ao escritor.

A sessão continuou com os mais crescidos, a quem Agualusa explicou que “escrever é um vício e que o melhor é que obriga a aprender, porque tem de se ler muito”.

“Sei como a história começa, mas não como termina, é como um jogo, escrevo para saber o fim, por isso é uma aventura”, disse.

Com mais de 30 obras publicadas, Agualusa, que também já escreveu letras para músicos angolanos, brasileiros e portugueses, como António Zambujo, chamou a atenção dos alunos para a importância dos livros, que “promoveram as grandes transformações do mundo”.

“Tudo começa pelo pensamento e literatura é pensamento. Os livros são territórios de pensamento”, concluiu.

PNE // VM

Lusa/Fim

MACAU – Escola Portuguesa de Macau,  14/11/2003,  MANUEL MOURA/LUSA

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