«AINDA AS GRAFIAS DUPLAS»

No que diz respeito às duplas grafias, na maior parte dos casos, a pronúncia da palavra pode ajudar a identificar se a consoante desaparece ou não.

Porém, existem palavras onde pode haver variantes. Vejamos: em Portugal, devemos escrever «estupefacto» e «estupefação». Mas, no Brasil, existe a grafia dupla – «estupefacção / estupefação», uma vez que pronunciam a palavra das duas formas. Sendo assim, será que podemos continuar a escrever, em Portugal, «estupefacção», uma vez que escrevemos «estupefacto», mantendo o ‘c’?

É provável que, na elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum, tal como ficou determinado na VI reunião de ministros, em março de 2010, sejam admitidas ambas as formas (estupefacção / estupefação) em toda a lusofonia.

Essa organização do vocabulário é, pois, fundamental para a unidade da língua, mas deve pautar-se por algum bom senso, de modo a que as duplas grafias sejam só as indispensáveis.

No entanto, o fenómeno das «duplas» não é novo em Portugal. Já muitas existiam anteriormente ao AO, na designada ‘norma’ (herbanário/ ervanário; assobio / assovio; ameixa / amêixoa).

Urge realçar que o conceito de ‘norma’ pode variar no seio de uma mesma comunidade linguística, tendo em conta que a comunidade que fala português é formada por sete nações soberanas.

Apesar de toda essa diversidade, somos capazes de compreender um brasileiro, um africano, um açoriano ou um madeirense. Ora, a variedade é também um património cultural de todos os que falam a língua portuguesa.

Deve, contudo, haver algum rigor na determinação do que, no domínio da nossa língua, é obrigatório, facultativo, aceitável ou incorreto.

Temos, pois, consciência de que a organização de um Vocabulário Comum é uma tarefa essencial, embora árdua e morosa; enquanto isso não acontece, Portugal deve generalizar o novo AO, de modo a não ficar isolado na lusofonia.

Aceitar as duplas grafias não é mais do que aceitar a língua como uma força inovadora e dinâmica, representada pela maioria dos falantes, sem nunca perder de vista o modelo tradicional.

 

Lúcia Vaz Pedro

  1. O “fantasma” das grafias duplas
  2. “Ainda as grafias duplas”
  3. As grafias duplas: Palavras com alternância do Ditongo OU/OI (mas com o mesmo sentido)

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