Lisboa, 28 mar (Lusa) – A população em África irá duplicar até 2050, 10 das 25 economias no mundo que mais cresceram na última década são africanas, mas mantém-se o desemprego de jovens e a fuga da população qualificada, segundo um estudo divulgado hoje.
De acordo com o relatório “África no ponto crítico”, da Fundação Mo Ibrahim, em Londres, o continente continua a apresentar progressos, mas enfrenta um risco real de regredir nos próximos anos, sendo que “o futuro depende cada vez mais da capacidade de África canalizar a energia para satisfazer as expectativas dos jovens”.
Até 2050, a população africana passará dos 230 milhões de pessoas em 2015 para 452 milhões, metade das quais com menos de 25 anos de idade. Este ativo demográfico corre, no entanto, o risco de ser desbaratado, sublinha o relatório da fundação especializada nas questões de governação no continente africano.
“O ciclo das matérias-primas estimulou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em muitos países africanos, mas quase não criou empregos. Nos últimos dez anos, enquanto o PIB africano cresceu em média acima dos 4,5%, os níveis de desemprego jovem permaneceram elevados”, sublinha a fundação, que dá como exemplo a segunda maior economia africana: “a África do Sul é incapaz de oferecer emprego a mais de metade da sua população jovem”.
Dez das 25 economias que mais cresceram em todo o mundo entre 2004 e 2014 são africanas, não obstante, mais de 30 milhões de jovens africanos estavam desempregados em 2015 e entre um terço e metade dos jovens com educação universitária ou terciária de países como Moçambique, Gana, Quénia, Uganda ou Libéria abandonaram os respetivos países.
O relatório aponta ainda para as questões relacionadas com a democracia e a representação democrática, começando por sublinhar que a média de idade dos líderes africanos era em 2016 de 66 anos, enquanto a média etária da população se encontra nos 20 anos e mais de metade não tem idade para votar.
Mais de um quarto da população de todo o continente tem o mesmo líder há mais de dez anos e, “com frequência, há muito mais tempo”, sublinha o texto.
Um total de 56 chefes de Estado africanos abriu caminho à renovação política na última década, incluindo nove que morreram no cargo e 13 que foram depostos por golpes de Estado.
“O registo de eleições ‘livres e justas’ cresceu significativamente na última década, acompanhado, porém, pelo aumento da abstenção e ceticismo em relação aos representantes eleitos”, aponta a fundação.
Por consequência, menos de um quarto da população manifesta-se “muito interessada nas questões públicas” e, na última década, “o número de protestos e manifestações proliferou como nunca”, descreve ainda o relatório.
“A maioria dos cidadãos africanos confia mais nos líderes religiosos, militares e tradicionais do que nos seus representantes eleitos”, sublinha o estudo.
“O desencantamento com a democracia e a escassez de oportunidades económicas são um estímulo ‘tóxico’ ao apelo pela migração e pelo extremismo violento”, aponta o trabalho.
O crescimento do terrorismo é outra das marcas do continente na última década, com o número de ataques a registar um aumento superior a 1.000%.
Em 2015, quatro países africanos estavam incluídos no grupo de dez países com níveis mais elevados de terrorismo: Nigéria, Somália, Egito e Líbia.
A Somália, o Quénia, a Nigéria e o Uganda não ratificaram ainda a Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 1999.
“O terrorismo tornou-se uma bem organizada empresa criminosa que movimenta muitos milhões de dólares, com o controlo crescente do comércio de drogas, tráfico de pessoas e outras componentes do mercado negro”, sublinha o relatório, concluindo que “os empregos, o estatuto e sentimento de ‘pertença’ oferecidos aos jovens para cortarem os laços com os paradigmas político e económico legais podem ser mais atraentes do que a própria ideologia”.
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