“Qualquer escritor tem que necessariamente escrever sobre o que sabe, senão não escreve, e portanto inspirei-me nalguns aspetos da minha biografia e da minha vida”, disse o autor aos jornalistas no final da cerimónia.
O presidente do júri, Manuel Alegre, disse que o livro “trata de um tema delicado que podia suscitar uma visão sentimental vulgar: a relação entre dois irmãos, um deles com Síndroma de Down”.
“Sendo um romance, uma ficção, tem de se pegar no material que dói e que se conhece, de outra maneira fica pouco, fica triste, não fica vivido”, explicou o autor, de 24 anos, trineto do romancista Eça de Queiroz, que irá receber com este prémio 100.000 euros e a publicação da obra.
Nervoso e cauteloso, Afonso Reis Cabral começou por dizer aos jornalistas que “não queria avançar com muita coisa”, confidenciando: “Tenho medo de dizer algum disparate, dado o estado de ansiedade em que estou”.
O jovem autor foi prontamente socorrido pelo poeta Manuel Alegre, que presidiu ao júri e que declarou: “todos nós de vez enquanto caímos nos disparates, principalmente quando temos tantos microfones à frente. E uma tentação à qual nem sempre se consegue resistir”.
Para Manuel Alegre, a obra escolhida “é um dos livros mais maduros, curiosamente escrito pelo premiado mais jovem até hoje”.
“Este é um dos mais conseguidos do ponto de vista literário, na minha opinião”, sublinhou Manuel Alegre.
Afonso Reis Cabral afirmou que “O meu irmão” é o seu primeiro romance, depois de “muitas tentativas falhadas e amarguras”.
O autor, que assume ter “muitos projetos”, referiu que começou a escrever aos 10 anos, primeiro poesia e depois contos. Atualmente desempenha as funções de editor na editora Alêtheia.
Questionado sobre a ascensão genealógica, Reis Cabral afirmou: “Tento não pensar em qualquer tipo de herança porque isso angustia-me um bocado. Não quero atribuir qualquer responsabilidade à genética”.
“O Eça de Queiroz é uma influência para toda a gente, independentemente de ser trineto ou não” do autor da obra ”Os Maias”, acrescentou.
Manuel Alegre voltou a ajudar o escritor, que se afirmou desorientado com tantos jornalistas, e sentenciou: “quem escreve assim é herdeiro de si mesmo”.
Afonso Reis Cabral por seu turno rematou: “O romance fala por si independentemente de mim, eu aqui não interesso para nada”.
Questionado sobre as razões que o levaram a concorrer ao galardão, o de mais elevado valor literário no panorama da Lusofonia, o premiado disse que “foi uma maneira de estabelecer um prazo” pois “estava a escrever há já três anos”.
“Senão, não acabava, pois estava sempre a reescrever e a ter novas ideias”, rematou, referindo que terminou o romance duas semanas antes do prazo de entrega, “depois de muito reescrito”.
Afonso Reis Cabral publicou em 2005 o livro “Condensação” que reúne poemas escritos entre os 10 e os 15 anos. Em 2008 ficou em 8.º lugar num concurso europeu para estudantes em Língua e Literatura em Grego Antigo.
Mestre em estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa, trabalhou como revisor em várias editoras.
O romance será publicado pela LeYa e o prémio será entregue no decorrer da Feira do Livro de Lisboa de 2015, disse à Lusa fonte do grupo editorial.
NL // CC – Lusa/Fim
Fotos:
– extraída de “O Público”.
– Grupo editorial LEYA, formado pelas editoras ASA, Caminho, Dom Quixote, Gailivro, Novagaia e Texto. 07 de janeiro de 2007. Centro de Congressos do Estoril. INACIO ROSA/LUSA