As Bases IX e X do Novo Acordo Ortográfico regulam a nova ortografia no que diz respeito à acentuação.
Deste modo, as palavras paroxítonas ou graves com vogal tónica aberta ou fechada, que são homógrafas de palavras proclíticas (que se submetem ao acento tónico da palavra seguinte), deixam de ser acentuadas. É o caso do verbo parar (3ª pessoa do singular do presente do indicativo e 2ª pessoa do singular do imperativo), cuja vogal da primeira sílaba é aberta (O sinaleiro para o trânsito. Para, escuta e olha!), e da preposição ‘para’, cuja vogal da primeira sílaba é fechada (Ele foi para casa).
A mesma regra aplica-se à palavra ‘pela’, que pode dizer respeito ao verbo pelar com /e/ aberto (3ª pessoa do singular do presente do indicativo e 2ª pessoa do singular do imperativo): A cozinheira pela os tomates para o refogado. /Pela as amêndoas para fazer o bolo. Deste modo, apenas a pronúncia a distingue da contração da preposição ‘por’ com o artigo definido ‘a’ ou com o pronome demonstrativo ‘a’. Neste caso o /e/ é fechado: Optou pela Matemática. Podia ter dado outra resposta; pela que deu não revelou os conhecimentos necessários.
Além disso, é igualmente a pronúncia que distingue a palavra ‘pelo’. Pode ser pronunciada com /e/ aberto, sendo uma forma do verbo pelar (1ª pessoa do singular do presente do indicativo). Exemplo – Eu pelo das costas quando apanho um escaldão. Se o /e/ for fechado, trata-se de um nome (O pelo do meu cão é preto) ou da contração da preposição ‘por’ com o artigo definido ‘o’ ou o pronome demonstrativo ‘o’ (Ele seguiu pelo caminho mais fácil. Tenho um sobrinho pelo qual me sacrifiquei).
O nome ‘pera’ também perdeu o acento, porque ser homógrafa do arcaísmo ‘pera’, que deu lugar a ‘para’ (Vou comer uma pera. E pera onde é a viagem (Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente). Na mesma situação, encontra-se o nome ‘polo’ (com /e/ aberto) – Comprei um polo ao meu filho – e a contração arcaica da preposição ‘por’ com o artigo definido ou o pronome ‘o’, pronunciando-se com /e/ fechado, – E a senhora Florença polo meu entrará lá (Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente).
As palavras graves ou paroxítonas ‘coa’ e ‘pero’ perdem igualmente o acento circunflexo.
Urge, no entanto, salientar que a forma verbal ‘pôde’ continua a levar o acento circunflexo no pretérito perfeito do indicativo, distinguindo-se, assim, do presente do indicativo: Ontem, ele não pôde ir a minha casa, mas hoje já pode.
Lúcia Vaz Pedro
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