Académie de Fado quer formar fadistas portugueses e franceses em Paris

A lusodescendente, formada em Direito, nunca virou as costas à música, depois de ter estudado solfejo e guitarra clássica no Conservatório de Paris, tendo criado a academia de fado há cerca de um ano porque “o fado faz parte” da sua vida.

“Nós estamos fora de Portugal, longe da cultura portuguesa, da língua, da literatura. O fado foi o vínculo que me permitiu estar sempre ligada a Portugal e à língua portuguesa, porque desde criança que pratico o português – nem que seja a ouvir o meu pai e a tentar cantar como ele. Achei que fosse importante continuar com essa vontade de trazer o fado aqui a Paris e foi assim que surgiu a ideia de criar a academia de fado”, descreveu.

Residente em Vincennes, às portas da capital francesa, a jurista de 39 anos soube que a antiga proprietária da escola de música da cidade ia para a reforma e decidiu agarrar a oportunidade, tendo-se aliado a uma bailarina com origens espanholas, Anita Losada, para retomar a direção da escola e criar uma academia de fado e uma academia de flamenco.

“Ao princípio as pessoas até diziam: ‘Uma escola de fado? Não é preciso, o fado não se ensina numa escola!’ Mas aqui em Paris nós não temos oportunidade de ir a um restaurante de fado, sentar ao pé de fadistas e aprender. Isso não acontece”, justificou Valérie do Carmo.

A também cantora explicou que “a academia de fado é a única escola de fado em Paris e nos arredores de Paris”, acreditando mesmo que “seja a única em França”, tendo cerca de 40 alunos, enquanto a instituição da qual faz parte, a Académie des Musiques et Danses du Monde, tem “quase 300”.

Valérie do Carmo convidou músicos conhecidos no circuito do Fado em Paris para darem aulas na escola, como Filipe de Sousa, diplomado em Musicologia na Universidade de Paris 8, que tem acompanhado várias gerações de fadistas residentes na capital francesa.

Filipe de Sousa nasceu em França, foi para Portugal quando era bebé e aos onze anos voltou para França, tendo entrado na música como autodidata, através da guitarra clássica que aprendeu “com malta na rua”.

O músico experimentou vários estilos, “desde jazz, blues, tango argentino, montes de músicas diferentes”, sem nunca estar satisfeito, até ao dia em que comprou, em Lisboa, “uma guitarra portuguesa assim baratinha, por curiosidade” e começou a ter aulas com Carlos Gonçalves, guitarrista de Amália Rodrigues durante vários anos.

“Quando voltei a Paris, comecei a acompanhar as pessoas que cantavam o fado. Foi muito rápido. O meio do fado é bastante pequeno, toda a gente se conhece e lá consegui o meu lugarzinho. O fado revelou-se ser um tipo de música que me atraiu naturalmente sem eu me pôr questões de estilo ou de estética, era uma coisa mais natural”, contou. Ler o artigo completo

O professor Filipe de Sousa (E), acompanhado pelos alunos, Artur Matos (C) e Linda Mergulhão (D), durante uma aula de guitarra portuguesa na Académie de Fado, em Paris, França, 27 de junho de 2015. A Académie de Fado, na região de Paris, quer formar a próxima geração de fadistas de Paris e alargar o fado aos franceses. CARINA BRANCO/LUSA

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