“Academia Luís Figo” reforça o futebol infantil na China

Pequim, 05 jun (Lusa) – Distribuídas por seis campos de relva sintética, no moderno e cosmopolita CBD (Central Business District) de Pequim, dezenas de crianças aprimoram o seu ‘toque de bola’, sob o olhar atento de oito técnicos portugueses.

É primavera na capital chinesa e a Figo Football Academy celebra dois anos desde que abriu a sua primeira escola na China, onde se alargou, entretanto, a 16 cidades.

“Aqui, é começar do zero. Temos que ensinar tudo: desde as regras do jogo à alimentação”, conta à agência Lusa Ricardo Ferreira, um dos 60 jovens técnicos que a academia foi contratar a Portugal.

“Até aos pais, que no final do primeiro treino perguntam se o filho vai ser jogador de futebol, temos de ensinar que se trata de um processo lento”, acrescenta.

No espaço de um ano, o número de alunos – crianças e adolescentes entre os quatro e 13 anos – inscritos na academia presidida por Luís Figo mais do que duplicou, para 5.000.

“Os miúdos gostam de futebol, é moda na China”, diz o diretor-técnico do projeto, Joaquim Rolão Preto.

Neste caso, a “moda” está ao alcance de poucos: as propinas rondam os 9.000 yuan (1.230 euros) por ano – o equivalente a quase seis meses de salário mínimo em Pequim.

Além de treinos à semana e jogos ao fim de semana, a Figo Football Academy está a organizar torneios de verão em Portugal, em parceria com a Academia Sporting e a Escola de Futebol Pauleta.

“Os chineses não são piores ou diferentes. Precisam é de começar a jogar futebol cedo”, defende o antigo treinador-adjunto dos ‘leões’ quando o clube ganhou pela última vez o campeonato português, em 2001/02.

“É de baixo que se começa”, observa.

Aquela máxima, contudo, não estará a ser seguida pelo futebol chinês: “A pirâmide do futebol aqui está totalmente invertida”, diz.

No conjunto, as 16 equipas que disputam a Superliga chinesa investiram, esta época, 317 milhões de euros na contratação de jogadores estrangeiros – mais 92% do que na temporada anterior.

Mas a ausência de talentos domésticos retém a China no 82º lugar no ‘ranking’ da FIFA, contrastando com os feitos do país nas modalidades olímpicas.

Profissionais do setor dizem que o insucesso da seleção chinesa se deve à falta de competições organizadas para as camadas jovens.

“Sem jogar não se pode evoluir. Só com treino, é impossível”, afirma Rolão Preto.

O horário escolar “brutal” não ajuda: “Os miúdos, quando entram no ensino médio, deixam de praticar desporto”.

Em Pequim, sede de um município com mais de 21 milhões de habitantes, por exemplo, “o número de federados no futebol jovem é muito inferior ao de Lisboa”.

A falta de “raízes” e “referências” internas na modalidade são outro entrave.

“A grande maioria das pessoas em Pequim não tem uma relação com o clube [local], o emblema ou o ídolo”, aponta o técnico português.

Cao Anjie, um dos alunos da “Academia Figo” em Pequim, por exemplo, é adepto do conjunto alemão Bayern Munique e os seus dois jogadores favoritos são o holandês Arjen Robben e o brasileiro Douglas Costa.

O Presidente chinês, Xi Jinping, já assumiu, porém, o desejo de ver a China qualificar-se para a fase final de um Mundial, organizar um Mundial e um dia vencê-lo.

No ano passado, Pequim anunciou um “plano de reforma do futebol” que prevê, entre outros pontos, a abertura de 20.000 escolas de futebol até 2020 e que “mais de 30 milhões de estudantes do ensino primário e secundário pratiquem com frequência a modalidade”.

O referido plano, aprovado pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o organismo máximo chinês encarregado da planificação económica, estabelece como meta colocar a seleção chinesa entre “as melhores equipas do mundo até 2050”.

Rolão Preto, que já trabalhou em França, Grécia, Bélgica e Emirados Árabes Unidos, enaltece a ambição da China, mas lembra que no desporto-rei o que importa é concretizar.

“O mais difícil é como lá chegar e como atingir esse objetivo”, conclui.

JOYP // NF – Lusa/fim
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