«A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos, é que melhor revela o seu poder de carácter (…). Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais, também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma instintiva compreensão da vida, em perfeito acordo com o génio da língua portuguesa»
«A linguagem é obra da natureza e do homem. As coisas falam à nossa sensibilidade que converte a impressão recebida numa forma de som articulado; isto é, «nomeia» a coisa que a feriu. O nome de uma coisa (principalmente das coisas vivas e naturais) é, por assim dizer, ela mesma em espírito verbal. Ora, quando a sensibilidade de um povo responde, de um modo especial, às coisas que lhe «falam», ou quando elas impressionam de um modo especial a sensibilidade de um povo, é porque ele tem uma alma própria, o dom de conceber e sentir o mundo e a vida por virtude própria. E se as coisas nos falam, também nos falam os nossos sentimentos, para serem nomeados e adquirirem expressão vivente(…) De um modo geral e vago, assim se criaram as palavras, verdadeiros seres, que, de organismos rudimentares, interjeccionais, se foram aperfeiçoando, pelas leis que presidem ao desenvolvimento das outras criaturas»
«Sim: a Palavra é uma Criatura; tem, portanto, a sua anatomia e a sua psicologia, dignas do amor, do respeito e carinho que merece tudo o que vive. Nada de amputações inestéticas e decepações cruéis! Ferir a harmonia material e espiritual das palavras é torná-las aleijadas e ridículas. Alterar bruta e cegamente as linhas do seu perfil é uma violência contra a Natureza. É certo que elas, como tudo o que vive, estão sujeitas a transformações, mas nós devemos operá-las com o máximo cuidado, atendendo sempre às leis da Beleza e da Vida. Não se pode lidar com as palavras como se lida com as pedras. Infelizmente tem sido este o seu destino; e daí o miserável estado físico em que se encontra a maior parte delas. Eduquemo-las, integremo-las, portanto, na sua natural beleza plástica, para que a sua alma encontre o seu habitat próprio, e nele viva livremente, irradiando o seu mágico poder de atracção, de fascinação e de encantamento. A alma das palavras é divina; é Verbo; e o Verbo é Deus, como dizia Vítor Hugo»