A língua portuguesa no contexto do romantismo de Teixeira de Pascoaes

Foto: junkeira.blogspot.com
Pedro CalafatePedro Calafate, Professor catedrático da Universidade de Lisboa

«A faculdade que tem um povo de criar uma forma verbal aos seus sentimentos e pensamentos, é que melhor revela o seu poder de carácter (…). Se a nossa alma, em seu trabalho de exteriorização verbal, se condensou em formas de som articulado, em palavras gráfica e sonicamente originais, também nas obras dos nossos escritores e artistas autênticos se nota uma instintiva compreensão da vida, em perfeito acordo com o génio da língua portuguesa»

Teixeira de Pascoaes, Arte de Ser Português (1915), Lisboa, Delraux, 1978, p. 25

«A linguagem é obra da natureza e do homem.
As coisas falam à nossa sensibilidade que converte a impressão recebida numa forma de som articulado; isto é, «nomeia» a coisa que a feriu.
O nome de uma coisa (principalmente das coisas vivas e naturais) é, por assim dizer, ela mesma em espírito verbal.
Ora, quando a sensibilidade de um povo responde, de um modo especial, às coisas que lhe «falam», ou quando elas impressionam de um modo especial a sensibilidade de um povo, é porque ele tem uma alma própria, o dom de conceber e sentir o mundo e a vida por virtude própria.
E se as coisas nos falam, também nos falam os nossos sentimentos, para serem nomeados e adquirirem expressão vivente(…) De um modo geral e vago, assim se criaram as palavras, verdadeiros seres, que, de organismos rudimentares, interjeccionais, se foram aperfeiçoando, pelas leis que presidem ao desenvolvimento das outras criaturas»

Teixeira de Pascoaes, Arte de Ser Português, Op. cit., p. 26/27.

«Sim: a Palavra é uma Criatura; tem, portanto, a sua anatomia e a sua psicologia, dignas do amor, do respeito e carinho que merece tudo o que vive. Nada de amputações inestéticas e decepações cruéis! Ferir a harmonia material e espiritual das palavras é torná-las aleijadas e ridículas. Alterar bruta e cegamente as linhas do seu perfil é uma violência contra a Natureza. É certo que elas, como tudo o que vive, estão sujeitas a transformações, mas nós devemos operá-las com o máximo cuidado, atendendo sempre às leis da Beleza e da Vida.
Não se pode lidar com as palavras como se lida com as pedras. Infelizmente tem sido este o seu destino; e daí o miserável estado físico em que se encontra a maior parte delas. Eduquemo-las, integremo-las, portanto, na sua natural beleza plástica, para que a sua alma encontre o seu habitat próprio, e nele viva livremente, irradiando o seu mágico poder de atracção, de fascinação e de encantamento.
A alma das palavras é divina; é Verbo; e o Verbo é Deus, como dizia Vítor Hugo»

Teixeira de Pascoaes, «A Fisionomia das Palavras» (1911), in A Saudade e o Saudosismo, Lisboa, 1988, p. 18.
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