A rápida expansão do português em Moçambique

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi à cerimónia de celebração de 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas de Moçambique com o mundo, em Maputo, 12 de junho de 2015. ANTÓNIO SILVA/LUSA
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi à cerimónia de celebração de 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas de Moçambique com o mundo, em Maputo, 12 de junho de 2015. ANTÓNIO SILVA/LUSA

“O Estado moçambicano, em quarenta anos, fez mais pela língua portuguesa do que o Estado português em todo período de colonização”, disse à Lusa o investigador e docente da Universidade Eduardo Mondlane, a maior do país.

De acordo com o académico moçambicano, o número de falantes de português em Moçambique cresceu consideravelmente, passando, nos últimos 35 anos, de 24 % para 50% em todo país.

“Estes dados estatísticos indicam a apropriação da língua portuguesa por parte dos moçambicanos. Se antes a língua portuguesa era apenas usada em meios formais, hoje, cada vez mais, está imiscuir-se no espaço doméstico também”, declarou Chimbutane.

Embora admita “deficiências” no sistema educativo de Moçambique, o linguista considera que a difusão do português no país é consequência da massificação da educação, adotada pelo Governo logo depois da independência em 1975.

Além de apontar a rápida expansão do português em Moçambique, Feliciano Chimbutane destaca mudanças estruturais na língua, resultantes, segundo o académico, do contacto entre o português e os idiomas locais.

“A maior parte da população é falante das línguas bantu. Até 2007, 85% da população tinham as línguas bantu como língua materna e cerca de 90 % falava mais as línguas locais do que língua portuguesa”, afirmou o linguista, destacando que, a partir deste contacto, “o português influenciou as línguas bantu e as línguas bantu influenciaram o português”, no aspeto lexical e também na dimensão da sintaxe.

“Há novos vocábulos que estão entrar para língua portuguesa como consequência do contacto, mas também, sob ponto de vista da sintaxe, muitos termos estão a contribuir para a formação do português moçambicano”, declarou o linguista, lembrando que “hoje, o próprio mundo de expressão portuguesa já valoriza aquilo que são os falados locais”.

Para Feliciano Chimbutane, o português de Moçambique ainda está em formação e não há ainda estudos que sistematizem a língua no país.

“São apenas quarenta anos de apropriação da língua. Estamos ainda numa fase embrionária”, defendeu Feliciano Chimbutane, considerando, também, que é necessário que se criem condições para que o desenvolvimento do português em Moçambique não se faça em prejuízo das línguas locais.

Por seu turno, a especialista em línguas Fátima Ribeiro também destacou à Lusa a expansão do português nos últimos anos em Moçambique, apontando igualmente mudanças ao nível da estrutura resultante das influências das línguas bantu.

“Nós temos estado a assistir um processo de interferência das línguas bantu na língua portuguesa. Esse processo manifesta-se de diversas formas, por exemplo, ao nível fonético, morfológico e também pragmático”, afirmou Fátima Ribeiro.

De acordo com a especialista, a “moçambicanização” da língua portuguesa está acontecer a um ritmo acelerado, com ajuda do contacto com as línguas locais.

“Hoje, quando pego no jornal, percebo que há muito mais desvios ao português padrão do que havia na década de 1990, por exemplo. Isso vai continuar a crescer”, adiantou Fátima Ribeiro, lembrando, entretanto, que os estudantes moçambicanos ainda possuem pouco domínio linguístico.

“É preciso termos muita atenção para essa questão, na medida em que os estudantes de hoje são os professores do amanhã”, declarou.

Fátima Ribeiro entende que a ideia do português como língua da unidade nacional, assumida logo após a independência pelo Governo moçambicano, enfraqueceu nos últimos tempos.

“Eu acho que se perdeu essa força de divulgar o português como língua da unidade nacional e se começou a dar uma tónica grande às línguas locais, o que é positivo”, considerou.

“Mas penso que essa ideia do português como língua da unidade merecia continuar a ser fomentado ”, disse a ainda a linguista.

EYAC // PJA – Lusa/Fim

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