Díli, 22 nov (Lusa) – Quatro funcionários permanentes e um grupo de estagiários da Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) formam o núcleo da Rádio Maubere, criada pela Fretilin em 1975 e que regressou depois de um silêncio de quase 40 anos.
A história da Rádio Maubere começa em 1975 quando a Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) cria as primeiras brigadas de jovens, oriundos das suas organizações juvenis, para tornar públicas as atividades e princípios programáticos do partido, enquanto divulga informação através do programa Haksolok, transmitido na então Rádio Difusão de Timor.
José Reis, secretário-geral adjunto da Fretilin, disse à Lusa que a decisão de recuperar a Rádio Maubere teve praticamente as mesmas motivações do que quando foi criada: divulgar informação importante e disseminar política à base do partido.
“Depois do golpe, a UDT (União Democrática Timorense) apodera-se da Rádio Difusão, que a Fretilin só recupera depois da contraofensiva, no final de agosto, primeiro reestabelecendo as emissões no quartel-general em Taibesse e, uma semana depois na torre do antigo aeroporto, que agora é a Presidência da República”, contou.
Mari Alkatiri, então comissário político nacional, cria a Rádio Maubere que transmite ininterruptamente até 07 de dezembro seguinte, dia da invasão de Díli, pela Indonésia.
“Quando houve a invasão foi preocupação do Comité Central da Fretilin retirar a rádio para as montanhas”, disse, relembrando que só mais de um ano depois é que as transmissões são retomadas.
Em finais de 1976 a Rádio Maubere, então sob responsabilidade do Departamento de Informação e Segurança (DISN) da Fretilin, começa a transmitir, primeiro em Fehuk Rin, no setor Centro-Sul, passando para o setor Centro-Norte em 1977.
Alarico Jorge Fernandes, então ministro de Informação e Segurança, assume a responsabilidade pela rádio que continua a enfrentar grandes dificuldades apesar de ser, na altura, o único contacto com o exterior, nomeadamente Darwin, norte da Austrália.
Um dos maiores problemas é garantir energia elétrica para o transmissor, com um padre, de nome Leoneto, a criar um sistema ‘ecológico’, com Ernesto Faria e Abel Fernandes a pedalar um sistema de dínamo que carregava as baterias.
No final de 1978 – quando ocorre o cerco de aniquilamento pelas forças indonésias – as bases de apoio da Fretilin ficam praticamente destruídas e a Rádio Maubere acaba por regressar ao silêncio.
A rádio fica silenciosa até já depois da restauração quando, explica José Reis, a Fretilin insiste na importância dos media – no passado já tinha criado o Nakroma e o Jornal do Povo Maubere – e debate recuperar a Rádio Maubere.
Em 2002 retoma a edição do Nakroma, suspenso desde os anos 70 e cria um novo boletim, o Liam Maubere e, finalmente, no segundo Congresso Nacional, em 2006, aprova o renascimento da Rádio Maubere.
Trinta e sete anos depois, a 20 de maio de 2011, a Rádio Maubere volta ao ar na frequência 99.9 Mhz.
Hoje transmite 12 horas diárias de programação, apesar “dos problemas de recursos humanos” com noticiários (em tétum e português), música e programas de desporto, saúde e educação.
“Temos poucos recursos para fazer tudo mas continuamos a considerar a informação importante”, disse José Reis.
No início deste ano Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, recordou a importância da Rádio Maubere oferecendo ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT) o equipamento de rádio usado entre 1975 e 1978.
Usada como única forma de comunicação entre Timor-Leste e o exterior depois da invasão indonésia, a Rádio Maubere esteve, muitas vezes, em movimento pelas montanhas do país.
Com emissões em português, inglês e tétum, a rádio permitiu à Fretilin enviar mensagens codificadas para o exterior que, nos primeiros anos, permitiram perceber a dimensão de algumas das primeiras grandes operações das forças invasoras da Indonésia.
Na Austrália as comunicações eram recebidas por um grupo de timorenses e ativistas australianos que também movimentavam o recetor entre vários locais dentro e fora da cidade de Darwin.
Do lado australiano um dos ativistas que mais comunicações recebeu foi Rob Wesley-Smith, um dos mais conhecidos ativistas australianos pró-Timor-Leste, que doou o equipamento usado em Darwin ao National Film and Sound Archive australiano em dezembro de 2007.