Malaca, 27 jun (Lusa) – A “primeira conferência das comunidades portuguesas asiáticas” arranca na terça-feira em Malaca para tentar sensibilizar os países lusófonos, em particular Portugal, para a ameaça de extinção que enfrentam comunidades que mantêm traços e identidades herdeiros da cultura portuguesa.
“É o início de um novo capítulo para os portugueses asiáticos”, disse hoje à Lusa Joseph Sta Maria, que preside à conferência, enquanto preparava os últimos detalhes para o encontro.
Joseph Sta Maria espera que algumas centenas de pessoas ouçam os conferencistas convidados na “Casa D’Albuquerque”, o nome da sala do hotel do bairro português de Malaca que vai acolher a conferência e que evoca o nome de Afonso de Albuquerque, que em 1511 conquistou a cidade.
Os nomes e as referências portuguesas são visíveis no bairro onde, na “portuguese square”, à beira-mar, os restaurantes como nomes como “lisbon” ou “Mello” oferecem “comida portuguesa” e por todo o lado se vê a bandeira verde e vermelha nacional.
No “portuguese stellement” (bairro português) vive uma comunidade católica, os “portugueses de Malaca”, que festeja o Natal e os santos populares e fala um crioulo que mistura português antigo com o malaio.
Não é a única comunidade deste tipo na Ásia e são estas culturas que os organizadores da conferência dizem ser urgente salvar. O objetivo é unir esforços com vista à sua preservação e fazer chegar a mensagem aos países que falam português, em especial, Portugal.
“Portugal tem responsabilidade moral em relação aos seus ‘filhos’ em toda a Ásia”, herdeiros da expansão marítima portuguesa dos séculos XVI e XVII, apesar de não serem cidadãos portugueses, considera Joseph Sta Maria, representante das minorias junto da administração de Malaca.
“Portugal tem de desempenhar agora o papel que lhe compete e convencer a CPLP e os países lusófonos ricos a salvarem a comunidade luso-asiática do desaparecimento. (….) Esperamos conseguir abrir os corações dos líderes portugueses e que eles vejam que a ameaça à identidade portuguesa na Ásia é real”, acrescentou.
Estão em Malaca, a convite da organização da conferência, entre outros, o líder histórico da resistência timorense, ex-Presidente e ex-primeiro-ministro e atual ministro de Timor-Leste Xanana Gusmão, os embaixadores de Portugal na Tailândia e na Indonésia e o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre. Já a delegação da Assembleia da República que era esperada acabou por não viajar até à Malásia.
Joseph Sta Maria lamenta que os políticos portugueses não estejam representados, mas garante estar “muito contente” com as presenças confirmadas.
“Os que não vêm vão falhar algo histórico e vão arrepender-se de não ter vindo. Eu entendo que haja constrangimentos de tempo, mas falhar algo fantástico”, diz.
Ainda assim, está convicto de que a mensagem vai chegar a Portugal.
Representantes de comunidades de uma dezena de países estarão em Malaca nos dois dias da conferência: Malásia, Singapura, Indonésia, Sri Lanka, Austrália, Tailândia, Birmânia, Timor-Leste, China e Índia.
Em alguns casos, as comitivas incluem grupos musicais de inspiração portuguesa e que são exemplos concretos das manifestações culturais das comunidades luso-asiáticas.
Entre os conferencistas estão diversos académicos de universidades dos Estados Unidos, Indonésia, Áustria, Sri Lanka, Filipinas, Malásia e Austrália, com investigações relacionadas com a herança cultural portuguesa em diversos pontos do mundo.