A mungomba que punha ovos

A mungomba, isto é, a perua do mato, punha os seus ovos junto à nascente de um rio. Cada vez que punha um, ao sair do ninho, cantava: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”.

Certo dia, os outros animais reuniram-se no intuito de saber qual seria o motivo da mungomba cantar sempre daquela maneira e decidiram mandar a cobra Ndakakanda ao seu ninho. Quando lá chegou, não encontrou a dona porque esta tinha ido procurar alimentos.

Então, a cobra enrolou-se no ninho e com o seu brilho fazia com que as coisas à volta parecessem águas caudalosas. Quando a mungomba voltou, encontrou no seu ninho uma coisa brilhante e disse assustada:

– Ai, meu Deus! Que mal fiz eu? Por que é que a cobra está sobre os meus ovos?

Não sabendo o que fazer, correu para a sua majestade o Tigre e disse-lhe:

– Majestade! Eu saí à procura de alimentos e, quando voltei, encontrei a cobra Ndakakanda sobre os meus ovos. Diga-me o que devo fazer com ela. Se pensa que estou a mentir, venha comigo para ver.

O Tigre respondeu-lhe:

– O problema é teu. Já alguma vez vieste aqui a minha casa visitar-me? Aliás, tenho-te ouvido cantar todas as manhãs. Diz-me lá, como é que costumas cantar? Respondeu-lhe a mungomba:

– Costumo cantar o seguinte: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”. Respondeu sua majestade, o Tigre:

– Tu não sabes cantar. Deverias cantar da seguinte maneira:

“Somos nós, somos nós e mais ninguém”. Quando cantas “Sou eu, sou eu e mais ninguém”, não achas que estás a humilhar os outros animais? Ou pensas que só tu é que vives neste deserto? Agora ficas a saber que somos muitos. Um ocupou o teu ninho e a um outro te vens queixar. Mas ainda somos muitos mais. Tantos, que nem os conheço a todos. Agora digo-te que vás cantar: “Somos nós, somos nós e mais ninguém”, e verás que a cobra deixará os teus ovos.

Voltando a mungomba para junto do seu ninho, cantou:

– Somos nós, somos nós e mais ninguém.

A cobra, ao ouvir a mungomba cantar: “Somos nós, somos nós e mais ninguém”, levantou a cabeça e deixou os seus ovos.

Então a mungomba foi até ao seu ninho, sentou-se sobre os seus ovos até os chocar e, depois, levou os seus filhos para outro lugar.

Assim aprendemos que devemos dizer:

– Somos nós, somos nós e mais ninguém, e não: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”.

É uma chamada de atenção para a solidariedade.Conto de Angola

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top