“O galego é extremamente útil porque, sabendo o galego, você pode se comunicar com mais de 200 milhões de pessoas. Excluindo o chinês, depois do inglês e do espanhol, está o português.” Não é uma citação do professor Ricardo Carvalho Calero, ou de Castelao, ou de Isaac Díaz Pardo ou de qualquer outro “galeguista” –(1)–. Quem respondia era o presidente da Junta da Galiza –(2)–, Alberto Núñez Feijóo, em entrevista feita pelo canal Intereconomía, ao lhe perguntarem sobre o “problema” que era para dar às crianças alguns cursos de galego.
Alberto Núñez Feijóo, presidente da Junta da Galiza, reconheceu os laços linguísticos entre
o galego e o português.
A questão não é nova, por surpreendente que possa parecer ouvi-la na boca do presidente que reduziu as classes de galego a 33%, ou o que votou contra uma proposta de lei do partido Bloco Nacionalista Galego para introduzir o português como segunda língua estrangeira em 2011. Durante os últimos dois séculos, a maior parte das elites intelectuais da Galiza defendeu os laços que seu próprio idioma mantém com a Lusofonia. O escritor e jornalista Álvaro Cunqueiro já previa, em 1970, que em 2000 o galego seria falado “por 200 milhões de pessoas”, incluindo todos os países lusófonos. O grande autor galego nascido em Mondoñedo deixou essa cifra um tanto por baixo, já que o português tem hoje mais de 250 milhões de falantes (3, 6% da humanidade), sendo a quarta língua mais falada do mundo.
No último 25 de junho, a Mesa do Parlamento [da Galiza] admitia para o trâmite uma Iniciativa Legislativa Popular (ILP), com o nome de Valentín Paz-Andrade (1898-1987), escritor e empresário homenageado este ano no Dia das Letras Galegas [17 de maio]. Os promotores da iniciativa devem coletar 15 mil assinaturas para que se discuta no Paço do Hórreo –(3)– a opção de incluir aulas de português no ensino obrigatório e de aproveitar os vínculos do galego com a Lusofonia. O empresário pontevedrino já via o potencial econômico do galego como uma ferramenta de comunicação mundial com que podem se entender milhões de pessoas, “apesar de falarem com um sotaque diferente ou de escreverem de forma diferente um certo número de palavras.”
E na hora de fazer negócios, o português torna-se cada vez mais importante. O Brasil, um dos oito países onde é oficial, já é a quinta maior economia do mundo. Um estudo do Banco Espírito Santo, de Portugal, quantifica que a Lusofonia representa, em termos econômicos, 4, 6% do PIB mundial, além de ser a língua de 2% das relações comerciais em todo o planeta. “Nos currículos que chegam às empresas, é muito comum as pessoas colocarem que sabem português, mesmo que não tenham nenhum título, apenas por serem galegos.”
José Ramom Pichel é o responsável da imaxin|software, a única empresa galega que desenvolve logiciais (softwares) diretamente para a Microsoft. Pichel, depois de ir ao Brasil a negócios, ressalta a importância não só de entender, mas também de dominar uma língua e suas variantes na hora de ganhar a confiança: “O toque pessoal é fundamental no mundo dos negócios. Ali, o galego é uma vantagem.”
“O português é como se fosse um galego mais culto. Ao estudar português, aprendo novas palavras galegas que eu não conhecia.” Essa foi a impressão de Sabela, uma jovem aluna que começou recentemente um curso de português na Escola Oficial de Idiomas –(4)– de Santiago de Compostela e que, em uma semana, sentiu que “quase não há diferenças entre o galego e o português”. Para seu professor, Ângelo Meraio, um galego parte com quase todo o caminho andado na hora de aprender esta Língua. Ler o artigocompleto
FOTO: Sala de aula de curso de Língua Portuguesa na Galiza: apesar do aumento da demanda, as aulas da Língua não fazem parte da grade oficial de ensino. (Foto: El País)