“A língua é um sistema impuro”, diz Lídia Jorge

A língua é um “sistema impuro”,na medida em que “está permanentemente a absorver,a esquecer palavras,a criar palavras e a cruzar-se com outros sistemas”,afirmou a escritora Lídia Jorge,nesta sexta-feira,em Coimbra. Em declarações ao JN,explicou que não adianta “querer manter intocável” a língua,porque em nenhum momento ela esteve pura.

Na sua intervenção,Lídia Jorge afirmou que “a língua é,por definição,um sistema impuro”. Partilhou um poema do músico Boss AC em que se lia,por exemplo,”chama-me tugaverdiano”,e rematou: “Esta mistura que passa na língua é o Português criando-se,à busca de uma nova pureza”.

“As pessoas tendem a ver a língua como uma espécie de sistema parado,mas é um sistema permanentemente em mutação”,cuja “mobilidade tem a ver com a própria vida,com a alteração sociológica,com a alteração de modas,com os equipamentos técnicos e tecnológicos que estão sendo inventados,com novas realidades orgânicas,com realidades culturais”,defendeu.

Guerra Colonial: “o nosso enigma central”

Lídia Jorge abordou também a questão da Guerra Colonial. “A literatura da Guerra Colonial foi e continua a ser o nosso enigma central”,sustentou. Para a autora,”andamos sempre à volta” do tema,como os espanhóis em relação à guerra civil espanhola ou os alemães em relação ao Holocausto,”momentos da História que não conseguimos resolver” e para os quais procuramos respostas.

Neste momento da sua comunicação,Lídia Jorge fez referência a outros escritores portugueses,destacando António Lobo Antunes e a sua obra “As naus”. Também apontou a existência de uma “literatura do retorno” (exemplificando com “O retorno”,de Dulce Maria Cardoso,e “Caderno de memórias coloniais”,de Isabela Figueiredo),bem como de uma “literatura de regresso a África” (a este propósito,mencionou “Baía dos tigres”,de Pedro Rosa Mendes).

A escritora falou ainda da “literatura como incorporação daqueles que,tendo vindo,se misturaram com quem cá estava”,e a este propósito referiu (e elogiou) “As primeiras coisas”,de Bruno Vieira Amaral. Uma obra que “mostra que nós somos uma cultura de mestiçagem e vamos continuar a ser”.

Universidade de Coimbra como “caldeirão da língua” Ler o artigo completo (JN)

Lídia Jorge (foto extraída de Facebook)
Lídia Jorge (foto extraída de Facebook)

 

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