Esta manhã, ao visitar o Malomil, um dos blogues que acompanho, dei com esta entrevista do José Gomes Ferreira ao Prova Oral, do Fernando Alvim, um programa leve mas que tem muito público sobretudo jovem e onde já estive umas poucas de vezes. É sobre o seu mais recente livro, que pretende resolver em definitivo montes de questões da história portuguesa:
Não sei se terão pachorra para ouvir. Eu dei-me à paciência de ouvir tudo todavia, para se apanhar a música, bastará escutar uns minutos aqui e acolá. É um caso de recto tono durante uma hora inteira.
Enviei ao Fernando Alvim o e-mail abaixo resumindo ao mínimo o que gostaria de dizer, porque se fosse demasiado longo ele não teria tempo de ler. Havia que cingir-me ao essencial.
Abraços.
Onésimo
Caro Fernando,
Acabo de ver o programa com o José Gomes Ferreira.
Os dados que ele aduz não são mentiras; existem. O problema é o desacordo que existe entre historiadores (sérios) acerca de muitos deles. Por uma ilha estar numa mapa, não se segue que ela exista. Colocavam-se nos mapas ilhas lendárias, de que a tradição oral falava, e depois os navegadores iam procurá-las. Mas isto é apenas um exemplo. Está tudo na Internet, como ele diz. O problema é que a Internet mostra mapas, mas não ensina a lê-los. Mostra-me todas as jogadas do CR7, todavia não me ensina a jogar como ele.
Não há uma “história oficial”. Tudo aquilo está nos livros e é debatido. Qualquer historiador que se preza distingue entre o que se sabe de certeza, o que pode ter sido verdade mas não há provas, o que é apenas conjetura… e por aí fora.
Só há compêndios de história para as escolas e eles não são escritos por historiadores, mas por pedagogos que com mais ou menos cuidado procuram registar o que se sabe com segurança.
Qualquer historiador que se preza não exibe assim tanta certeza como o José Gomes Ferreira faz, que não parece ter nunca ouvido falar do que seja isso da dúvida. Sobre cada ponto, ele é dogmático.
A propósito de dúvida: não fiquei com dúvidas sobre uma das afirmações que ele fez acerca de si próprio: “Eu não sou historiador!”
De facto, nota-se. E quem sou eu para duvidar?
Onésimo Teotónio Almeida
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