“A Cabeça de Velho é um lugar místico”

“A Cabeça de Velho é um lugar místico”, declara à Lusa Fredson Bacar, diretor provincial de Turismo, referindo-se ao cartaz do festival “Manica, paraíso místico por explorar”, um evento descrito como um casamento descontraído para preservar o património cultural e cartão de visita de Chimoio, e ao mesmo tempo impulsionar o turismo doméstico e respeito pelas tradições seculares.

Entre mistérios e descobertas, um longo caminho de terra descreve inúmeras curvas forçadas por pequenas colinas até ao sopé de Cabeça de Velho, onde um palco e aparelhagem industrial dão oportunidade aos artistas para espalhar o seu talento e expressões culturais, desde cantos e danças espirituais aos mais modernos.

A primeira edição do festival turístico-cultural Cabeça de Velho pretende também, disse Fredson Bacar, fornecer serviços turísticos e promover parcerias, com vista a tornar a província de Manica num destino de referência nacional e regional, além de explorar as inteligências ocultas do “velho homem”.

A serra está a saque de gente que procura pedra para construção civil, sofre com queimadas descontroladas, motivadas pela caça de ratos nas encostas, e que tem dizimado milhares de pequenas espécies, o que o Governo “condena veemente”.

“Estamos a fazer um trabalho para declarar a Cabeça de Velho como um parque ecológico”, precisou Fredson Bacar, justamente para reconhecer e preservar o potencial ambiental e o habitat de várias pequenas espécies.

O lugar encerra mistérios vários, como os lençóis brancos, que até há três anos apareciam lavados e estendidos todas as manhãs sem que se saiba quem os pôs lá, os bodes de colar vermelho sem dono conhecido, que desfilavam indiferentes nos bairros densamente habitados nos arredores do monte, e ainda as “lágrimas” que escorrem em todos os períodos do ano da zona dos olhos do “Velho”, provenientes de uma minúscula nascente no topo da rocha.

Na mesma zona, reproduzem-se colónias de velozes lagartixas de cauda azul e vermelha, que habitam a rocha em grandes quantidades junto de enormes macacos, aves e serpentes.

No “queixo”, ergue-se uma “barba” vetusta, formada por frondosas árvores que hospedam um cemitério tradicional, onde foi enterrado o líder que ostenta o nome da rocha, e onde decorrem frequentemente faras (festas) e cerimónias religiosas, contracenando com o deserto provocado pelas queimadas descontroladas.

“Devemos salvaguardar e fazer a gestão dos recursos naturais e culturais de forma a criar produtos turísticos competitivos, mas garantindo que os mesmos não sofram alterações e nem percam o seu valor em resultado da utilização”, afirmou Ana Comoana, governadora de Manica, que enquadra a preservação da serra como um veículo de consulta para as gerações vindouras.

Para a governante, a simbiose da natureza com o turismo e a cultura “é um dos mecanismos de conservação e proteção” dos recursos naturais, especialmente os ecossistemas e a biodiversidade, e apelou aos Governos locais e a sociedade civil que praticquem o uso sustentável da terra.

Em Manica está em exploração uma área de conservação, na Reserva Nacional de Chimanimani (Sussundenga), onde foram construídos três “lodges” comunitários, para dar oportunidade de emprego a população, preservando a flora e desencorajando a destruição da área.

AYAC // PJA – Lusa/Fim

Fotos:

– Isabel Luca (E), parte pedra no monte Cabeça de Velho, principal cartão de visita de Chimoio, em Manica, centro de Moçambique. 05 de novembro de 2011. As autoridades governamentais em Chimoio tentaram reprimir, multando as pessoas que demoliam o monte para retirar a pedra, mas as medidas não foram suficientes para parar com o saque ao local “sagrado natural” de Manica. ANDRE CATUEIRA / LUSA

– Cabeça de Velho a rocha sob forma de cabeça humana deitada de costas, exaltada pela primeira vez em festival turistico-cultural em Chimoio, Manica, centro de Moçambique, 07 de dezembro de 2014. LUSA

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