Casa da Cultura da Guiné-Bissau apresentada com pano de pente e memória de Cabral

Lisboa, 20 jan 2024 (Lusa) – O pano de pente, as saias bijagós e os pastéis de mandioca fizeram hoje parte da apresentação da Casa da Cultura da Guiné-Bissau, em Lisboa, onde Amílcar Cabral foi recordado, tendo alguns convidados usado o seu popular súmbia.

A cerimónia decorreu nas instalações da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), que se revelaram pequenas para acolher as largas dezenas de convidados que, com a sua presença, quiserem partilhar um dia há décadas sonhado.

“Já estávamos a desconfiar que provavelmente teríamos a casa cheia, mas não estávamos à espera de tanto”, disse à Lusa a diretora da Casa da Cultura da Guiné-Bissau, Rita Ié.

Com um programa cultural que aborda várias áreas – como literatura, cinema ou artes plásticas – esta casa foi pensada para toda a comunidade lusófona e a sua apresentação decorreu no Dia dos Heróis, assinalado em Cabo Verde e na Guiné-Bissau, no dia da morte de Amílcar Cabral, ocorrida há precisamente 51 anos.

Cabral foi, aliás, uma referência em todas as intervenções que marcaram a apresentação da Casa, sendo visíveis vários convidados com súmbias, o chapéu que o líder africano popularizou.

“Cabral não está morto. Ele não morre, nunca morreu. É incrível vermos como a vida e o legado de alguém pode transpor tantas gerações, tantos anos volvidos do seu assassinato. Ele está mais vivo que nunca”, disse Rita Ié.

A mensagem do “pai” da independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau é também cada vez mais reproduzida pelas gerações mais novas, como a de Ronaldo Mendes, da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau no Porto.

“A juventude em que me revejo é a que, sabendo das dificuldades que enfrenta, das querelas políticas que existem no nosso espaço, decide tomar os seus caminhos, como dizia Amílcar Cabral, que é preciso pensar com a nossa cabeça e andar com os nossos pés”, disse.

E prosseguiu: “Cabral está fisicamente morto, mas aquilo que representa enquanto combatente, ideólogo da luta pelas independências da Guiné e Cabo Verde e, de certa forma, pelas independências africanas, está hoje vivo e, no dia de hoje, não podia faltar esse pensamento, essa ligação quase automática com o que Amílcar Cabral representa no seu todo”.

Para o escritor Amadú Dafé, a Casa da Cultura da Guiné-Bissau terá sempre “casa cheia” e presente a figura de Cabral.

“Cabral de alguma forma concebeu e fez parte da nação guineense e, por consequência, da própria entidade guineense, que não era reconhecida porque era um país colonizado. Com a nossa independência, com todo o processo da luta pela libertação, podemos falar de uma nação chamada Guiné-Bissau, que tem a sua própria identidade”, disse à Lusa.

O autor de “Ussu de Bissau” considera que o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, depois de várias gerações de guineenses que não conseguiram concretizar o seu legado, está a ser uma perfeita oportunidade” para ser feito o que ele e os seus camaradas não conseguiram.

“O sonho continua”, observou.

O legado de Cabral foi igualmente apontado pelo economista e investigador Carlos Lopes, que, através de uma mensagem de vídeo, recordou a importância da cultura no pensamento do líder africano.

Para Cabral, disse, a luta contra “a opressão colonial não podia avançar sem a compreensão da cultura local”.

Por seu lado, o sociólogo e ativista Miguel de Barros defendeu um levantamento do património cultural da Guiné-Bissau, recordando que este pode vir a ser uma fonte de proveito económico relevante.

Com uma forte presença da juventude, a cerimónia contou ainda com uma figura histórica: O comandante “Manecas” dos Santos, companheiro de Cabral na luta pela independência e que protagonizou uma resposta antiaérea que alterou o rumo da guerra.

Igualmente presente esteve um representante da Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa e o diretor-geral das Artes português.

Durante a apresentação desta casa atuou o Grupo Cultural Netos de Bandim e o músico Micas Cabral (Tabanka Djaz).

SMM // MLS – Lusa/Fim

 

VER:

Cultura da Guiné-Bissau vai ter uma casa em Lisboa aberta ao mundo

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