O primeiro-ministro António Costa esteve na Argentina e no Chile. Viagens pacíficas, ao que parece: bom entendimento, relações comerciais em curso, laços políticos reforçados. Tudo normal, incluindo as declarações de circunstância, em conferência de imprensa, tanto com o presidente Macri, como com a presidente Bachelet.
Tudo normal? Não.
De novo pudemos assistir a um episódio já muito visto, sempre lamentável e não menos deprimente. Ou seja: os anfitriões falaram no seu espanhol temperado com os deliciosos sotaques argentino e chileno, mais marcado o primeiro do que o segundo.
António Costa, contudo, não resistiu à tentação. Em vez do português que lhe competia, lá se aventurou a falar um espanhol achavascado, tão canhestro como ridículo e mesmo subserviente.
Não há nisto que digo nenhuma expressão de nacionalismo, porque sei bem o que é e como se comporta o meu velho fascínio pela língua espanhola. Mas cada coisa e cada língua no seu lugar. Se não havia tradução (porque, evidentemente, ela não era necessária), falasse António Costa num português claro e bem articulado e seguramente seria bem entendido.
Vimos isto muitas vezes, com outra gente, e a cena já cansa, vinda do tempo em que se pensava em Portugal que o espanhol é uma língua fácil, que com dois “pero” e um “sin embargo”, lá se compõe a gosto.
Pelos vistos ainda há quem pense assim, sem perceber que a dignidade do Estado também se compromete com estas atitudes que soam a adulação provinciana.
A menos, é claro, que António Costa se tenha lembrado do que, a propósito de línguas estrangeiras, dizia o meu querido Fradique Mendes: Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: – todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. (…) Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros!
Se foi isso, retiro o que fica escrito.