Foto: Templo Cultural Delfos
Lisboa, 30 mai (Lusa) – A presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, elogiou hoje a escolha do escritor brasileiro Raduan Nassar para a atribuição do Prémio Camões, destacando-o como um autor que “cruza culturas”.
“Parece-me uma excelente escolha, é muito interessante a atribuição deste prémio a alguém que cruza várias culturas” e é, em simultâneo, um autor “com uma consciência política e social muito relevante”, afirmou a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O descendente de libaneses, que começou a escrever nos anos 70, tem “uma longa carreira” e um “percurso que merece ser reconhecido”, acrescentou Ana Paula Laborinho.
“Espero que a atribuição do Prémio Camões contribua para um conhecimento mais alargado da sua obra no espaço da língua portuguesa e fora dela”, afirmou a responsável do Instituto Camões, salientando que “há um interesse crescente pelos escritores de língua portuguesa, em particular brasileiros”.
O júri, que atribuiu o prémio por unanimidade a Raduan Nassar, de 80 anos, disse que o autor “revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso”.
“Muitas vezes, essa revelação é agreste e incómoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu”, lê-se na ata do júri.
A editora Cotovia, que publicou o autor, em Portugal, considera-o “um dos maiores escritores das letras brasileiras, originalíssimo autor de uma obra muito reduzida e depurada”.
Nassar estreou-se em 1975, com “Lavoura arcaica”, que foi adaptada ao cinema, assim como a novela que se seguiu. “Um Copo de Cólera”, de 1978. A Cotovia publicou em Portugal a coletânea de contos “Menina a caminho”, de 1997, e a Relógio d’Água estreou o autor no mercado livreiro português, em 1979, com a sua primeira novela.
O secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que anunciou o vencedor, disse que o premiado reagiu “com surpresa” à distinção, e que a acolheu com o “maior agrado e com orgulho”.
Raduan Nassar nasceu em Pindorama, Estado de São Paulo, em 1935, descende de uma família libanesa, estudou Direito e Letras na Universidade de São Paulo, onde concluiu a sua formação académica em Filosofia.
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor Miguel Torga (1907-1995). No ano passado, foi distinguida a escritora portuguesa Hélia Correia.