40 anos/Angola: Igrejas e seitas proliferaram

Luanda, 04 nov (Lusa) – A atividade missionária em Angola, à época colonial confinada a realidade regional, deu lugar após a independência, em 1975, a uma proliferação de igrejas e para todo o tipo de crenças.

O Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) reconhece 83 igrejas e contabilizava, em abril último, cerca de 1.200 seitas e confissões não autorizadas, algumas das quais têm vindo a ser encerradas coercivamente nos últimos meses.

Até 1975, ano em que o país africano se tornou independente do colonialismo português, a gestão da presença de diversas igrejas na Angola independente residia no controlo que as autoridades coloniais impuseram à atividade missionária, começou por explicar à agência Lusa o diretor do INAR, Manuel Fernandes.

No seu retrato histórico das igrejas em Angola, Manuel Fernandes explica que essa organização colonial permitiu até certo ponto a multiplicação das denominações cristãs.

Na organização do Estado angolano foi definida a laicidade, após a independência, o que permitiu a autonomia da atividade religiosa em Angola, sublinhou o responsável do INAR.

Foi na década de 1980, segundo o responsável, que se iniciou a problemática da proliferação de igrejas e seitas em Angola.

Segundo Manuel Fernandes, “estes movimentos ou grupos” denominados em Angola também por “novas religiões, grupos religiosos marginais ou ainda movimentos religiosos livres ou alternativos” surgem no âmbito da “cosmovisão dos indivíduos”.

Manuel Fernandes explica melhor, salientando ser esta a maneira como cada indivíduo compreende e interpreta o que lhes acontece a si e às outras pessoas, que deram espaço ao surgimento de várias religiões ou seitas ilegais.

“No caso concreto de Angola, em rigor, é desde a década de 80, que a sociedade angolana vem assistindo ao crescimento de instituições religiosas provenientes de várias partes do globo, desde África (particularmente da República Democrática do Congo) à Europa, Estados Unidos, Brasil e Ásia. Esta situação tem várias causas, sendo a principal, na minha perspetiva, o fenómeno da globalização que direta ou indiretamente envolve-nos a todos, com todas as suas incidências e consequências”, frisou.

Para Manuel Fernandes, contribuíram, ainda mais do que a cosmovisão, a passagem da economia centralizada à economia de mercado, que conduziu à liberalização das atividades comerciais e à introdução de novas regras, que por sua vez, “a coberto do exercício comercial”, levaram a que “algumas igrejas e pastores desenvolvessem a atividade religiosa”.

“Outras causas podem ser apontadas, nomeadamente o momento de instabilidade socioeconómica, resultante do conflito armado, que durou mais de três décadas, obrigando que algumas respostas sociais fossem supostamente encontradas nas igrejas”, explicou Manuel Fernandes, acrescentando que este último fator contribuiu igualmente para a desestruturação das comunidades tradicionais.

“Uma base secular de equilíbrio social, político e económico”, sublinhou.

O elevado índice de analfabetismo das populações, a vulnerabilidade das fronteiras angolanas, causa que concorre para uma imigração estrangeira cada vez mais crescente, com outras culturas e experiências religiosas diferentes, são também apontadas como razões para a alta proliferação de confissões religiosas.

“Estes e outros fatores, que podiam aqui ser apontados, levaram à perda da racionalidade e à procura de respostas no irracional, para os problemas que afligem as populações, as nossas comunidades”, destacou o diretor do INAR, instituição tutelada pelo Ministério da Cultura.

Todavia, o diálogo inter-religioso processa-se à volta das várias plataformas ecuménicas existentes no país, nomeadamente a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), o Conselho de Igrejas Cristãs (CICA), a Aliança Evangélica de Angola (AEA), o Conselho de Igrejas de Reavivamento (CIRA), entre outras, parceiras do Estado na comunicação com as comunidades.

Sobre o número de fiéis em Angola, Manuel Fernandes escusou-se a avançar um número, sob pena de “cometer um erro bastante grave”, sublinhando, no entanto, que os angolanos são maioritariamente cristãos.

NME // PJA – Lusa/Fim

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top