Nações Unidas, 23 abr 2024 (Lusa) – Embaixadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) defenderam uma maior aposta na língua portuguesa e no desenvolvimento sustentável como parte do caminho a traçar pelo bloco 50 anos após o 25 de Abril.
Num debate organizado pela ONU News sobre os 50 anos da Revolução dos Cravos, e com a presença dos embaixadores permanentes na ONU de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste, os diplomatas foram unânimes em apontar como uma das prioridades do bloco lusófono elevar o português ao patamar de língua oficial da ONU.
“Nós temos que fortalecer a nossa cooperação em todos os âmbitos possíveis e imaginários. Temos que nos dar conta de quanto a língua facilita isso (…). Nós temos várias áreas em que podemos utilizar a facilidade da língua para intercambiar experiências, desenvolvermo-nos de maneira comum, conjunta. Eu acho que esse é que é o grande ponto. Acho que essa consciência da facilidade que gera para nós a língua é o ponto a desenvolver. A partir daí, todo o resto virá com muita facilidade”, avaliou o embaixador do Brasil junto à ONU, Sérgio França Danese.
Também a representante permanente de Cabo Verde junto à ONU, Tânia Romualdo, refletiu sobre o número de falantes do idioma para defender a causa comum de levar o português a língua oficial das Nações Unidas, a par do inglês, espanhol, francês, chinês, russo e árabe.
“É a língua que nos une, é a língua na qual choramos, cantamos, amamos”, insistiu a diplomata no debate, que contou também com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres.
A embaixadora portuguesa, Ana Paula Zacarias, confirmou o empenho de esforços nesse sentido, dado o número de falantes de português e a sua relevância internacional.
“Temos que fazer ouvir a nossa voz em português aqui nas Nações Unidas. E fazê-la ouvir significa trabalhar em conjunto. (…) Sobretudo, temos muito a fazer na coordenação política, na coordenação das questões de segurança e defesa, que são neste momento um aspeto fundamental”, advogou Ana Paula Zacarias.
A diplomata portuguesa defendeu a realização, pelo bloco da CPLP, de algumas declarações conjuntas no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU, “sempre que possível em língua portuguesa”.
“Para que o resto do mundo consiga ouvir na nossa língua comum e consiga, a partir daí, entender esta nossa comunidade, que é uma (…) uma comunidade de expressão, uma comunidade de valores que nos unem em relação à defesa dos direitos humanos, à Liberdade, à democracia, à ideia de que juntos podemos construir um mundo melhor”, sublinhou.
Ainda em relação à língua, o representante permanente de Timor-Leste na ONU, Dionísio Babo Soares, indicou que o esforço na reintrodução da língua portuguesa em Timor-Leste está a ser “mais intensivo”, num trabalho conjunto com Portugal.
No ano passado, o Tribunal Centro-Americano de Justiça já havia proposto ao Conselho de Segurança da ONU incorporar o português como idioma oficial da organização.
Esse tribunal regional entende que, com base na resolução de 2017 da Assembleia-Geral sobre a cooperação da CPLP com as Nações Unidas e o facto de ser língua oficial da Conferência Geral da UNESCO, existe uma base legal para fazer uma solicitação ao Conselho de Segurança para incorporação do português como língua oficial da ONU e, posteriormente, aprova-la na Assembleia-Geral.
A língua portuguesa não só é uma das línguas mais difundidas no mundo, com mais de 260 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, como é também a língua mais falada no hemisfério sul, segundo dados da UNESCO.
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP.
Neste debate que assinalou os 50 anos do 25 de Abril, abordou o impacto na revolução em cada país e em que se refletiu sobre as prioridades do bloco lusófono, os embaixadores apontaram também o desenvolvimento sustentável como o caminho a seguir.
Portugal considerou fundamental a aposta conjunta no desenvolvimento e na luta contra as alterações climáticas, assim como na problemática dos Oceanos.
Apesar de observar que Portugal está numa posição de maior desenvolvimento face a outros Estados-membros da CPLP, o Brasil destacou que os fortes interesses marítimos que todos partilham é um ponto de partida para uma maior cooperação.
“Precisamos de reforçar as nossas relações a nível da CPLP, servir a CPLP como um instrumento que nos possa levar ao desenvolvimento, (…) que nos permita ter uma posição mais assertiva em conjunto a nível da comunidade internacional naquelas questões que julgamos importantes para os nossos povos, para as nossas nações, de maneira que a base histórica que temos, as relações culturais, uma língua comum, sirvam de elementos para nos levar a outros patamares “, sustentou o embaixador angolano, Francisco José da Cruz.
Já o representante permanente de Moçambique, Pedro Comissário Afonso, considerou “o reforço da CPLP” como o “caminho certo a seguir” para desenvolver e alavancar as relações do bloco, com foco no desenvolvimento da língua portuguesa, na concertação político diplomática e na cooperação.
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