Versão ‘online’ do maior jornal da China já dá notícias em português

Pequim, 18 out (Lusa) – Instalado no 29.º andar de uma torre envidraçada, Shan Chengbiao, responsável pelas edições ‘online’ em línguas estrangeiras do Diário do Povo, está habituado a ver mais longe: “Queremos levar a China aos 200 milhões de falantes de português”.

Criado no início deste ano, o portal em língua portuguesa do jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) já tem seis jornalistas, entre os quais um português e um brasileiro, e o objetivo é “continuar a crescer”.

“Como o maior jornal da China, não poderíamos deixar de ter um serviço noticioso em português”, explica Shan à agência Lusa, aludindo às profundas relações económicas e comerciais entre o “gigante” asiático e os países lusófonos.

Fundado em 1948, na província chinesa de Hebei, o Diário do Povo é o jornal mais lido do mundo, com uma tiragem diária superior a 2, 5 milhões de exemplares e 300 milhões de visualizações na edição digital.

Não é o único órgão estatal chinês, mas logo junto à receção confirma-se o seu estatuto singular: quatro fotografias exibem os homens que lideraram a China, desde 1949, a ler atentamente o jornal.

Mao Zedong, o fundador da República Popular que dirigiu o país ao longo de 27 anos, e os seus sucessores – Deng Xiaoping, Jiang Zemin e Hu Jintao – estão lá todos.

Desde setembro, o Diário do Povo ocupa um edifício de 33 andares construído de raiz no moderno e cosmopolita CBD (Central Business District) de Pequim, e emprega atualmente cerca de 10 mil pessoas.

Renato Lu, 33 anos, chegou no início deste ano para dirigir a secção portuguesa, após uma década a trabalhar na Rádio Internacional da China, um outro grande órgão estatal do país.

“Quando terminei o curso de português, muitos dos meus colegas foram trabalhar para Angola, mas eu escolhi a rádio, porque gostava de jornalismo”, conta.

Antes de entrar para a universidade, Renato só sabia que o português era falado em Portugal e no Brasil: “Sabia que era a língua oficial de alguns países africanos, mas nem sequer conhecia os nomes”.

Contudo, na estratégia que tem para o portal que dirige, garante: “Todos os países são igualmente importantes”.

Para já, a maior dificuldade está em encontrar recursos humanos: “Falta gente experiente na área da comunicação social com conhecimentos linguísticos de chinês e português”.

Numa equipa em que a média de idades ronda os 30 anos, Yin Yongjian, jornalista sexagenário, é uma exceção.

Na China, estudou espanhol, mas foi em Moçambique, em meados dos anos 70, que se estreou como correspondente para a agência oficial chinesa Xinhua: “Em Lourenço Marques (atual Maputo) aprendi português, com professores de Portugal”.

Em 1983 foi para Lisboa e nos anos 90 voltou a África, para acompanhar as conversações entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

Naquela altura, a China já tinha adotado a política de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”, que viria a transformar um país pobre e isolado na segunda maior economia do mundo, no espaço de 30 anos.

Entretanto, a defesa do internacionalismo proletário, que levara Pequim a decretar o “apoio aos países africanos na luta contra o imperialismo”, já dera lugar a uma visão mais tecnocrata.

Hoje, a China é o principal cliente do petróleo angolano e o maior parceiro comercial do Brasil.

Portugal tornou-se nos últimos anos um dos principais destinos do investimento chinês na Europa, logo a seguir ao Reino Unido, Alemanha e França, num montante que já ultrapassou os 10.000 milhões de euros.

Cerca de 20 universidades, dispersas por uma dezena de cidades da China continental, têm atualmente licenciaturas em português – a esmagadora maioria aberta nos últimos dez anos.

O Diário do Povo ´online’ tem também versões em inglês, russo, espanhol, francês, japonês, árabe, alemão e coreano, mas Yin Yongjian não tem dúvidas: “se hoje fosse para a universidade, escolhia o português para estudar”.

JOYP // SB – Lusa/fim
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