MNE homenageia língua portuguesa em Paris com aula descontraída

Paris, 5 mai (Lusa) – Num anfiteatro com 60 alunos de português, em Paris, o ministro dos Negócios Estrangeiros deu hoje uma aula sobre a importância da língua portuguesa, numa postura descontraída entre tiradas sobre política, literatura e recordações da sua juventude “insubmissa”.

No Liceu Montaigne, que acolhe uma secção internacional de português com cerca de uma centena de alunos, Augusto Santos Silva regressou à escola, respondeu às perguntas dos estudantes em português e em francês e gostou.

“Adorei! Mas julgo que se percebe que eu, lá no fundo, nunca deixei de ser um professor”, disse, no final, em declarações à agência Lusa.

O chefe da diplomacia portuguesa aproveitou a visita de dois dias a Paris para celebrar o Dia da Língua Portuguesa e das Culturas na CPLP junto dos alunos, uma jornada marcada por “210 ações diferentes que são promovidas ou apoiadas pelo Instituto Camões em 49 países”.

Augusto Santos Silva sublinhou que neste ano letivo Portugal e França assinaram um novo acordo na área de cooperação “que permite fazer do português a experiência piloto de desenvolvimento do chamado EIL, isto é, do ensino internacional de línguas estrangeiras”, acrescentando que o português não é apenas uma língua de herança, mas “uma língua que abre portas em todo o mundo”.

“É muito importante para os filhos, os descendentes de portugueses que vivem aqui em França, que possam dominar plenamente o francês – que é a língua da sociedade em que eles estão e em que querem estar integrados – sem com isso significar o abandono do português. O português que é a sua língua de herança, que é a língua da sua família e que é também uma das grandes línguas globais do mundo de hoje”, afirmou à Lusa.

Questionado sobre Marine Le Pen, candidata da extrema-direita à segunda volta das eleições presidenciais em França, que defende a supressão das línguas de herança na escola, Augusto Santos Silva falou em “mais uma razão porque o projeto de integração europeia requer que o próximo presidente da República francesa seja um europeísta”.

Na sua introdução aos alunos, o antigo professor lembrou que “a língua portuguesa é falada por cerca de 260 milhões de pessoas no mundo” e que a sua riqueza reside na “pluralidade das suas formas” nos diferentes países de língua oficial portuguesa, lembrando que a ONU prevê que em 2050 seja falada por quase 400 milhões e até ao final do século por 500 milhões.

Augusto Santos Silva respondeu, depois, às perguntas dos alunos, nomeadamente sobre o seu trabalho de ministro, os seus gostos literários, porque entrou na política e se acha que a língua portuguesa tem a projeção que merece.

O ministro contou ser “um filho do 25 de abril”, disse ter sido “tecnicamente um ex-membro de uma organização clandestina” até 1974 por ter participado nos “comités de ação liceal enquadrados pela União Operária Revolucionária”.

Referiu ter pertencido depois “a um movimento que aqui [em França] chamariam “gauchiste” (“esquerdista”), “o equivalente àqueles que de si próprios se dizem insubmissos”, numa referência ao movimento A França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, a quarta força mais votada na primeira volta das presidenciais em França.

Augusto Santos Silva respondeu, ainda, que o que mais gosta em França é o “Tour de France”, “uma ocasião para descobrir a beleza do território francês”, o queijo “mesmo o que cheira muito mal” e a literatura de Marcel Proust, Molière, Racine, Corneille e Flaubert, ainda que não goste tanto de Émile Zola.

Perante uma audiência animada e curiosa, o ministro disse, também, que o seu autor preferido é Fernando Pessoa, citando versos e poemas, e esclarecendo que entre o ortónimo e os heterónimos os seus preferidos “variam em função dos dias” mas “nos dias em que os problemas são tantos” ou em que “o presidente Trump escreve um tweet” vira-se para Alberto Caeiro.

Antes de se despedir dos alunos, Augusto Santos Silva recitou o poema do século XV de João Roiz de Castelo Branco: “Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.”

CAYB // ANP – Lusa/fim
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