Manuel Alegre, mais de 50 anos de literatura e de intervenção política

Redação, 08 jun (Lusa) – Manuel Alegre, 81 anos, hoje distinguido com o Prémio Camões, conta com uma carreira literária de mais de 50 anos, paralelamente a uma intervenção cívica e política.

Os livros “A Praça da Canção” e “O Canto e as Armas” marcaram, à partida, o seu percurso político e literário, de combate, contra a censura, contra a guerra colonial e a ditadura do Estado Novo.

“O Canto e as Armas” é “o livro de uma geração, mas também um livro que se prolongou no tempo, enquanto voz de esperança numa pátria livre, e de denúncia da opressão política da ditadura salazarista, da guerra colonial, da emigração e do exílio, a que muitos portugueses, como o próprio poeta, foram condenados”, assinalou o grupo editorial LeYa, no passado mês de abril, quando do lançamento da edição comemorativa dos 50 anos desta obra.

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de maio de 1936, em Águeda, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi dirigente estudantil.

Na ditadura do Estado Novo, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado, foi fundador do Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), membro do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra.

Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.

Esteve dez anos exilado em Argel, onde foi dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional, e fez parte dos quadros da emissora de Rádio Portugal Livre.

Na década de 1960, os seus dois primeiros livros, “Praça da Canção” (1965) e “O Canto e as Armas” (1967), foram apreendidos pela censura. Os seus poemas foram cantados por, entre outros, José Afonso, Amália Rodrigues, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília.

Manuel Alegre regressou a Portugal após o 25 de Abril, em 02 de maio de 1974, e entrou mais tarde no Partido Socialista (PS), tendo sido deputado constituinte pelo círculo eleitoral de Coimbra, candidatura que repetiu neste distrito em todas as eleições legislativas até 2002.

Em Portugal, voltou a trabalhar na rádio, nomeadamente na Radiodifusão Portuguesa (RDP).

Em 2006, Manuel Alegre candidatou-se à Presidência da República como independente, voltando a concorrer em 2011, já apoiado pelo PS.

Foi membro do Conselho de Estado até ao final da anterior legislatura.

Manuel Alegre recebeu, no ano passado, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

É o único autor português incluído na antologia “Cent poèmes sur l’exil”, editada pela Liga dos Direitos Humanos, em França (1993). Em abril de 2010, a Universidade de Pádua, em Itália, inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas.

Com um percurso de mais de 50 anos de escrita, Manuel Alegre tem recebido prémios literários nacionais e internacionais.

Em 1998, recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, pelo livro “Senhora das Tempestades”, que lhe valeu também o prémio da Crítica Literária, atribuído pela Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários.

No mesmo ano, recebeu o Prémio de Literatura Infantil António Botto, pelo título “As Naus de Verde Pinho”.

Pelo conjunto da sua obra, foi distinguido com o Prémio Pessoa, em 1999, ano em que também recebeu o Prémio Fernando Namora, pelo romance “A Terceira Rosa”.

Em 2007, a Fundação Inês de Castro de Coimbra deu ao autor de “Praça da Canção”, pela totalidade da sua obra, o Tributo Consagração e, no ano seguinte, a Fundação da Casa de Mateus atribuiu-lhe o Prémio D. Dinis, pelo livro “Doze Naus”.

Este ano, no passado dia 02, foi distinguido com o Prémio Guerra Junqueiro, instituído pelo Freixo Festival Internacional de Literatura, que se realizou em Freixo de Espada à Cinta, em Trás-os-Montes.

Manuel Alegre foi eleito no ano passado sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa, da secção de Literatura e Estudos Literários.

O escritor recebeu, por parte da República Portuguesa, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1989, a Estrela dos Combatentes pela Liberdade, Ordem da ex-Jugoslávia (Jugoslovenske Zvesde sa Zlatnim Vencem), é comendador da Ordem de Ouissam Alaoui, de Marrocos, da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha, e Grande-Oficial da Ordem de Bernardo O’Higgins, do Chile.

O poeta foi igualmente distinguido com a Ordem do Mérito Nacional da Argélia, é Grande-Oficial da Ordem Stella Della Solidarietá Italiana, tem o 1.º Grau da Ordem de Amílcar Cabral, de Cabo Verde, e recebeu ainda as medalhas de Mérito do Conselho da Europa, de que é Membro Honorário, da cidade de Veneza e de Pádua, em Itália, sendo cidadão honorário da segunda, e ainda as medalhas de ouro de Águeda, onde nasceu, e de Coimbra, onde estudou.

Num dos poemas que compõem “O Canto e as Armas”, “Poemarma”, Manuel Alegre escreveu: “Que o Poema seja microfone e fale/ uma noite destas de repente às três e tal/ para que a lua estoire e o sono estale/ e a gente acorde finalmente em Portugal”, uma descrição que se aproxima do que foi o início do golpe militar que, a 25 de Abril de 1974, derrubou a ditadura.

Segundo o escritor Urbano Tavares Rodrigues (1923-1913), nesta obra de Alegre encontra-se “a dignidade de Portugal que se levanta em palavras, sem um só inchaço de retórica balofa”.

O Prémio Camões foi hoje atribuído ao escritor português Manuel Alegre, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, no Brasil.

Esta é a 29.ª edição do Prémio Camões, instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil, em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga.

Segundo o texto do protocolo constituinte, o prémio consagra anualmente “um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.

NL (PMF) // MAG – Lusa/Fim

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