A língua portuguesa e a lusofonia

Pedro CalafatePedro Calafate, Professor catedrático da Universidade de Lisboa
«A língua não é um sucedâneo do império perdido, nem a lusofonia um império do avesso. Mas assim como a unidade da língua fez a unidade do Brasil, também a difusão da língua oficial é condição de unidade dos novos países africanos»

Manuel Alegre, «Abdicar da língua é abdicar da alma», in Arte de Marear, Lisboa, 2002, p.65.

«Do rectângulo da Europa passámos para algo totalmente diferente. Agora Portugal é todo o território de língua portuguesa. Os brasileiros lhe poderão chamar Brasil e os moçambicanos lhe poderão chamar Moçambique. É uma pátria estendida a todos os homens (…).
Quando se diz ter Portugal de fazer alguma coisa, o que tem de ser feito sê-lo-á por todos os homens de língua portuguesa. A missão de Portugal, agora, se de missão poderemos falar, não é a mesma do pequeno Portugal, quando tinha apenas um milhão de habitantes, que se lançou ao Mundo e o descobriu todo, mas a missão de todos quantos falam a língua portuguesa (…). Os Portugueses poderão ir para o Quinto Império se decidirem, em primeiro lugar, não serem imperadores. Este é o ponto essencial da questão. Paradoxalmente, apenas haverá um Quinto Império se não existir um quinto imperador (…)»

Agostinho da Silva, Entrevista a Victor Mendanha, Correio da Manhã, 31 de maio de 1986, in Dispersos, Lisboa, ICALP, pp. 127-128.

«Tem que haver a mensagem de Portugal, como no Brasil tem que haver a mensagem do Nordeste e a mensagem do Mato Grosso e a de Santa Catarina, que são mensagens bem diferentes. Como tem que haver a mensagem de Cabo Verde, a mensagem de Moçambique e até a mensagem de alguém que ainda queira usar o resto de língua que há lá na área do Pacífico.

Tem que haver e tem que ser, também, uma mensagem do conjunto, isto é, tem de haver alguma coisa que exprima, de um modo geral, os homens que falam, nas suas várias culturas e modalidades, a língua portuguesa. Esse ponto vai ser extremamente importante. Vai ser o ponto que eu creio fundamental para o mundo.

Ou os homens de língua portuguesa inventam qualquer coisa, criam qualquer coisa que tire o mundo da confusão em que está hoje, da escravidão em que vive quase toda a gente – escravidão de varias espécies – e a liberta para uma vida que seja verdadeiramente humana, e até mais do que humana, ou, então, o papel dos homens de língua portuguesa vai ser muito restrito no mundo. E é capaz de aparecer alguém a tomar esse encargo.

Gostaria muito que fossem os homens de língua portuguesa a terem uma mensagem que fosse válida para a Europa, porque, coitada da Europa!, não tem mais nenhuma mensagem para dar. É preciso que uma das tarefas de Portugal seja essa de fazer com que a Europa tenha alguma mensagem a dar para o futuro e se ocupe de coisas mais largas do que aquelas que primacialmente a têm ocupado»

Agostinho da Silva, “Entrevista a Antónia de Sousa”, Diário de Notícias, 20 de Julho de 1986, in Dispersos, Lisboa, ICALP, 1988, pp. 134-13″

Sobre o acordo ortográfico:

«A língua portuguesa não se abre para o mundo através da grafia. A língua portuguesa vale para o mundo aquilo que contiver a sua mensagem»

Agostinho da Silva, Entrevista a Antónia de Sousa, Diário de Notícias, 20 de Julho de 1986, in Dispersos, Lisboa, ICALP, 1988, p. 134
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